Livros sobre índios após 1980


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As obras aqui arroladas são as lançadas após o fechamento do terceiro volume da Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira, de Herbert Baldus e de Thekla Hartmann [ver aqui] e após meu artigo "A Antropologia no Brasil: Um roteiro" [nota]. Faço somente uma lista incompleta de livros. Os comentários são exíguos e referentes apenas a alguns. E dou a "livro" um sentido amplo, incluindo também os volumes que enfeixam vários artigos, de um só ou de diversos autores. Limito-me aos publicados, pois supostamente são os mais disponíveis aos interessados nas livrarias ou nas estantes das bibliotecas, e aos de caráter mais acadêmico. Não entram nestas considerações os inúmeros livros recentes, muitos redigidos em línguas nativas, destinados à instrução escolar de indígenas.

Julio Cezar Melatti


Lista dos livros

ALBERT, Bruce & RAMOS, Alcida Rita (orgs.). 2002. Pacificando o Branco: Cosmologias do contato no norte-amazônico. São Paulo: Editora UNESP, Imprensa Oficial do Estado. [nota]

ALMEIDA, Rita Heloísa de. 1997. O Diretório dos Índios: Um projeto de "civilização" no Brasil do século XVIII. Brasília: Editora UnB.

ALMEIDA, Rita Heloísa de (org.). 2003. Aldeamento do Carretão segundo os seus herdeiros tapuios: conversas gravadas em 1980 e 1983. Brasília: FUNAI/CGDOC. 422 p. Ilust.

ALMEIDA, Rubem Ferreira Thomaz de. 2001. Do Desenvolvimento Comunitário à Mobilização Política: O Projeto Kaiowa-Ñandeva como Experiência Antropológica. Rio de Janeiro: Contra Capa. 226 pp. [nota]
Resenha de Fabio Mura em Mana 8 (2): 212-216, 2002.

ANDRADE, Ugo Maia. 2009. Memória e Diferença: os Tumbalalá e as redes de trocas no submédio São Francisco. São Paulo: Editora Humanitas/FAPESP.

ANDRELLO, Geraldo L. 2006. Cidade do Índio: Transformações e cotidiano em Iauaretê. São Paulo: Editora UNESP e ISA; Rio de Janeiro: NuTI.

AQUINO, Txai Terri. 2012. Papo de Índio. Manaus, UEA Edições. 351 p. il. [nota]

ARAÚJO, Melvina. 2006. Do Corpo à Alma: Missionários da Consolata e índios Macuxi em Roraima. São Paulo: Humanitas e Fapesp. 248 p.
Resenha de Ubirajara de Farias Prestes Filho na Revista de Antropologia 49 (1): 817-820, 2006.
Resenha de Almir Diniz de Carvalho Júnior em Campos 8 (1): 201-203, 2007.

ATHIAS, Renato. 2007. Povos Indígenas de Pernambuco: Identidade, Diversidade e Conflito. Recife: Ed. Universitária UFPE.

AYTAI, Desidério. 1985. O Mundo Sonoro Xavante. São Paulo: Museu Paulista (Etnologia 5). 335 p., il., mus.
Resenha de Kilza Setti na Revista de Antropologia, vols. 30/31/32: 577-581, 1987/88/89.

BAINES, Stephen Grant. 1991. "É a FUNAI que Sabe": A Frente de Atração Waimiri-Atroari. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi.

BALÉE, William. 1994. Footprints of the Forest: Ka'apor ethnobotany: The historical ecology of plant utilization by an Amazonian people. New York: Columbia University Press.
Resenha de Klinton Senra em Mana 2 (1): 171-174, 1995.

BARATA, Maria Helena. 1993. A Antropóloga entre Facções Políticas Indígenas: Um drama do contato interétnico. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi. [nota]

BARCELOS NETO, Aristóteles. 2002. A Arte dos Sonhos: Uma iconografia ameríndia. Lisboa: Museu Nacional de Etnologia, Assírio & Alvim. 276 p., ilustr. [nota]

BARCELOS NETO, Aristóteles. 2008. Apapaatai. Rituais de máscaras no Alto Xingu. São Paulo: Edusp. 328 p.
Resenha de Marina Vanzolini Figueiredo em Mana 16 (2): 501-504, 2010.

BARROS, Edir Pina de. 2003. Os Filhos do Sol: História e cosmologia na organização social de um povo Karib — Os Kurâ- Bakairi. São Paulo: Edusp.

BASSO, Ellen B. 1985. A Musical View of the Universe: Kalapalo myth and ritual performances. Philadelphia: University of Pennsylvania Press.

BASSO, Ellen B. 1987. In Favor of Deceit: A study of tricksters in a Amazonian society. Tucson: The University of Arizona Press.

BESSA FREIRE, José Ribamar. 2004. Rio Babel: A história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro: Atlântica e EdUerj. 272 p. [nota]

BUCHILLET, Dominique (org.). 1991. Medicinas Tradicionais e Medicina Ocidental na Amazônia. Belém: CEJUP, Museu Paraense Emílio Goeldi e Universidade do Estado do Pará.

CÂMARA CABRAL, Ana Suelly & A. RODRIGUES, A. D. 2007. Línguas e culturas Tupi. Volume I. Campinas: Ed. Curt Nimuendajú.

CALAVIA SÁEZ, Oscar. 2006. O Nome e o Tempo dos Yaminawa: Etnologia e história dos Yaminawa do rio Acre. São Paulo: Editora UNESP e ISA, Rio de Janeiro: NUTI. 479 p., ilustr., 16x23 cm.
Resenha de Paulo Roberto Homem de Góes em Campos 8 (1): 205-207, 2007.

CAPIBERIBE, Artionka. 2007. Batismo de fogo. Os Palikur e o cristianismo. São Paulo: Ed. Annablume.

CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. 1988. A Crise do Indigenismo. Campinas: Editora da UNICAMP.

CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. 2002. Os Diários e suas Margens: Viagem aos territórios terêna e tükúna. Brasília: Editora UnB. 346 p.
Resenha de Henyo Barreto Filho no Anuário Antropológico/2002/2003: 389-410.

CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto & BAINES, Stephen G. (orgs.). 2005. Nacionalidade e Etnicidade em Fronteiras. Brasília: Editora UnB. 278 p. [nota]
Resenha de Cristhian Teófilo da Silva em Horizontes Antropológicos 13 (27): 341-346, 2007.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 1986. Antropologia do Brasil: Mito, história e etnicidade. São Paulo: Brasiliense e Edusp. 173 p.
Resenha de Aracy Lopes da Silva na Revista de Antropologia, vols. 30/31/32: 583-585, 1987/88/89.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 1987. Os Direitos do Índio: Ensaios e documentos. São Paulo: Brasiliense. 230 p.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. 1992. Legislação Indigenista no Século XIX: Uma compilação (1808-1889). São Paulo: Comissão Pró-Índios de São Paulo/Edusp.
Resenha de Paulo Sérgio Figueiredo Perassi na Revista de Antropologia 37: 363-365, 1994.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). 1992. História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, FAPESP e Secretaria Municipal de Cultura. [nota]

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela & ALMEIDA, Mauro Barbosa de (orgs.). 2002. Enciclopédia da Floresta: o Alto Juruá: práticas e conhecimentos das populações. São Paulo: Cia. das Letras. 735 pp.
Resenha de William Balée em Mana 10 (2) : 419-423, 2004.

CASTELNAU-L’ESTOILE, Charlotte de. 2000. Les Ouvriers d’une Vigne Stérile: Les Jésuites et la Conversion des Indiens au Brésil (1580-1620). Lisboa e Paris: Centre Culturel Calouste Gulbenkian e Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 557 pp.
Resenha de Beatriz Perrone-Moisés em Mana 9 (1): 139-142, 2003.

CASTRO FARIA, Luiz de. 2001. Um Outro Olhar: Diário da Expedição à Serra do Norte. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul. 216 p., ilustr., 26,5 cm. [nota]

CESARINO, Pedro de Niemeyer. 2011. Oniska: Poética do xamanismo na Amazônia. São Paulo: Perspectiva e Fapesp. 423 p., mapas, fotos e desenhos. [nota]
Resenha de Miguel Naveira em Mana 18 (3): 598-601, 2012.

CESARINO, Pedro de Niemeyer. 2013. Quando a Terra Deixou de Falar: Cantos da mitologia marubo. São Paulo: Editora 34. 320 p.

CHEROBIM, Mauro. 1986. Os índios Guarani do litoral do estado de São Paulo: análise antropológica de uma situação de contato. São Paulo: USP-FFLCH. 202 p., il. [nota]

COELHO, Vera Penteado (org.). 1993. Karl von den Steinen: Um século de Antropologia no Xingu. São Paulo: Edusp e Fapesp. 632 p. 18x25,5 cm, il.

CONKLIN, Beth A. 2001. Consuming Grief: Compassionate cannibalism in an Amazonian Society. Austin: University of Texas Press.
Resenha de Els Lagrou em Mana 9 (2): 201-203, 2003.

CROCKER, Jon Christopher. 1985. Vital Souls: Bororo Cosmology, Natural Symbolism, and Shamanism. Tucson: The University of Arizona Press.
Resenha de E. Viveiros de Castro no Anuário Antropológico/86: 227-245.

CROCKER, William H. 1990. The Canela (Eastern Timbira), I: An ethnographic introduction. Washington, D.C.: Smithsonian Institution Press (Smithsonian Contributions to Anthropology, 33). 487 p. 21x28cm., il. [cópia aqui] [nota]

CROCKER, William H. & CROCKER, Jean. 1994. The Canela: Bonding through kinship, ritual, and sex. Fort Worth: Harcourt Brace College Publishers.
2ª edição com o título The Canela: Kinship, ritual and sex in an Amazonian tribe. Belmont: Wadsworth/Thomson, 2004.
Tradução para o português com o título: Os Canelas: Parentesco, ritual e sexo em uma tribo da chapada maranhense. Rio de Janeiro: Museu do Índio (Funai), 2009. 201 p., il. [nota]

DIAKURU & KISIBI. 1996. A Mitologia Sagrada dos Antigos Desana do Grupo Wari Dihputiro Põrã. Povoado Cucura: UNIRT, São Gabriel da Cachoeira: FOIRN e São Paulo: Instituto Socioambiental (apoio da ORSTOM).

DIVERSOS NARRADORES. 1999. Waferinaipe Ianhere — A Sabedoria dos Nosssos Antepassados — Histórias dos Hohodene e dos Walipere-Dakenai do Rio Aiari. Rio Aiari: ACIRA, São Gabriel da Cachoeira: FOIRN e São Paulo: Instituto Socioambiental (apoio da IIZ).

DORTA, Sônia F. & CURY, Maria X. 2000. A Plumagem Indígena Brasileira no Acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, Edusp, IMESP e MAE/USP.

EARLY, John & PETERS, John. 1990. The Population Dynamics of the Mucajai Yanomama. San Diego: Academic Press. [nota]

EARLY, John & PETERS, John. 2000. The Xilixana Yanomami of the Amazon. Gainesville: University Press of Florida. [nota]

ERIKSON, Philippe. 1996. La Griffe des Aieux: Marquage du Corps et Démarquages Ethniques chez les Matis d'Amazonie. Paris: Peeters/Centre National de la Recherche Scientifique. 370 pp., il.
Resenha de J. Melatti no Anuário Antropológico/96: 197-206. [cópia aqui]
Resenha de Elvira Bealunde em (Mana 5 (1): 163-165, 1999.

ERIKSON, Philippe & LENAERTS, Marc (orgs.). 2002. Idées à bouturer. Ethnoécologie amazonienne. Nanterre: Commission Européenne, Université Libre de Bruxelles e Laboratoire d’Ethnologie et de Sociologie Comparative. 306 pp.
Resenha de Diego Villar em Mana 9 (2): 204-206, 2003.

FARAGE, Nádia. 1991. As Muralhas dos Sertões: Os povos indígenas no rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra/Anpocs. 197 p. [nota]
Resenha de Waldenir Bernini Lichtenthale na Revista de Antropologia 35:236-251, 1992.

FAULHABER, Priscila. 1987. O navio encantado: etnia e alianças em Tefé. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi.

FAULHABER, Priscila. 1998. O Lago dos Espelhos: Etnografia do saber sobre a fronteira em Tefé/Amazonas. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi (Coleção Eduardo Galvão).
Resenha de Alicia Barabas no Anuário Antropológico/98: 227-232.

FAUSTO, Carlos. 2000. Os Índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. [nota]
Resenha de Francisco Noelli em Mana 7 (1): 171-174, 2001.

FAUSTO, Carlos. 2001. Inimigos Fiéis: História, guerra e xamanismo na Amazônia. São Paulo: Edusp. 587 p. ilustr. inclusive 50 fotos. [nota]
Resenha de João Frederico Rickli em Campos 2: 153-155, 2002.
Resenha de J. Melatti em Ciência Hoje 30 (178): 80-81, 2001. [cópia aqui]
Resenha de Cecilia McCallum em Mana 8 (2): 195-198, 2002.
Resenha de Ana Elisa de Castro Freitas em Horizontes Antropológicos 8 (18): 322-328, 2002.
Resenha de José Luiz Costa Neto em Horizontes Antropológicos 12 (26): 307-312, 2006.

FÉNELON COSTA, Maria Heloisa. 1988. O mundo dos Mehináku e suas representações visuais. Brasília: Editora UnB e CNPq, Rio de Janeiro: Editora UFRJ. 159 p., 21 x 29,5 cm, 70 desenhos. [nota]

FERREIRA, Eliane Fernandes. 2009. Do arco e flecha ao "arco digital". Os indígenas do Brasil e a internet. 253 pp.
Resenha de Jens Schneider em Mana 17 (1): 211-213, 2011.

FERREIRA, Mariana Kawall Leal (org). 1994. Histórias do Xingu: Coletânea de depoimentos dos índios Suyá, Kayabi, Juruna, Trumai, Txukarramãe e Txicão. Introdução da organizadora. São Paulo: USP – NHII e FAPESP.

FOIRN/ISA. 1998. Povos Indígenas do Alto e Médio Rio Negro: Uma introdução à diversidade ambiental do noroeste da Amazônia brasileira. Apoio: MEC-SEF.

FRANCHETTO, Bruna & HECKENBERGER, Michael (orgs.). 2001. Os Povos do Alto Xingu: História e Cultura. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.
Resenha de J. Melatti em Mana 8 (1): 216-219, 2002. [
cópia aqui]
Resenha de Carlos Machado Dias Jr. na Revista de Antropologia 45 (1): 257-259, 2002.

GADELHA, Regina A.F. (org.). 1999. Missões Guarani: Impacto na sociedade contemporânea. São Paulo: EDUC (Editora da PUC-SP) e FAPESP.

GAGLIARDI, José Mauro. 1989. O Indígena e a República. São Paulo: Hucitec, Edusp e Secretaria de Estado da Cultura. [nota]

GALLOIS, Dominique. 1986. Migração, Guerra e Comércio: Os Waiãpi na Guiana. São Paulo: USP – FFLCH.

GALLOIS, Dominique Tilkin. 1994. Mairi Revisitada: A reintegração da Fortaleza de Macapá na tradição oral dos Waiãpi. São Paulo: NHII/USP/Fapesp. 91 p.
Resenha de Maria Denise Fajardo Pereira na Revista de Antropologia 39 (1): 279-285, 1996.
Resenha de Tania Stolze Lima em Mana 3 (1): 182-185, 1997.

GALLOIS, Dominique Tilkin. 2002. Kusiwa: Pintura corporal e arte gráfica waiãpi. Ilustrações dos índios Waiãpi. Rio de Janeiro: Museu do Índio (Funai); São Paulo: NHII (USP). 72 p.
Resenha de Aristóteles Barcelos Neto na Revista de Antropologia 45 (1): 261-263, 2002.

GALLOIS, Dominique (org.). 2005. Redes de Relações nas Guianas. São Paulo: Humanitas e Fapesp. 328 p.
Debate de Peter Rivière com os autores da coletânea em Mana 13 (1): 251-273, 2007.

GALVÃO, Eduardo. 1996. Diários de Campo: Entre os Tehetehara, Kaioá e Índios do Xingu. Organização, edição e introdução de Marco Antonio Gonçalves. Rio de Janeiro: Editora UFRJ e Museu do Índio (FUNAI).
Resenha de Roque Laraia no Anuário Antropológico/96: 189-196.

GARNELO, Luiza. 2003. Poder, Hierarquia e Reciprocidade: Saúde e Harmonia entre os Baniwa do Alto Rio Negro. Rio de Janeiro: Fiocruz. 260 p.
Resenha de José Antonio Kelly em Mana 10 (2): 423-426, 2004.

GASPAR, MaDu. 2000. Sambaqui: Arqueologia do litoral brasileiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. [nota]

GASPAR, MaDu. 2003. A Arte Rupestre no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. [nota]

GIRALDIN, Odair. 1997. Cayapó e Panará: Luta e sobrevivência de um povo Jê no Brasil Central. Campinas: Editora da UNICAMP. [nota]

GOMES, Denise Maria Cavalcante. 2002. Cerâmica arqueológica da Amazônia: vasilhas da Coleção Tapajônica MAE-USP. São Paulo: FAPESP,EDUSP e Imprensa Oficial de São Paulo. 355 pp.
Resenha de Francisco Noelli em Mana 9 (2): 209-211, 2003.

GOMES, Mércio Pereira. 1988. Os Índios e o Brasil. Petrópolis: Vozes. [nota]

GOMES, Mércio Pereira. 2002. O Índio na História: O povo Tenetehara em busca da liberdade. Petrópolis: Vozes. 631 p.
Resenha de J. Melatti na Revista de Antropologia 46 (1): 259-269, 2003. [cópia aqui]

GONÇALVES, Marco Antonio Teixeira. 1993. O Significado do Nome: Cosmologia e Nominação entre os Pirahã. Rio de Janeiro: Sette Letras. [nota]
Resenha de J. Melatti em Anuário Antropológico/94: 281-291. [cópia aqui]

GONÇALVES, Marco Antonio. 2001. O Mundo Inacabado: Ação e Criação em uma Cosmologia Amazônica. Etnografia Pirahã. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. 424 p.; 17 x 24 cm; 74 figuras (fotos e desenhos indígenas). [nota]
Resenha de J. Melatti no Jornal do Brasil, 01-06-2002, caderno "Idéias", p. 5. [cópia aqui]
Resenha de Bonilla Oiara em Mana 9 (1): 148-151, 2003.

GORDON, Cesar. 2006. Economia Selvagem: Ritual e Mercadoria entre os Índios Xikrin-Mebêngôkre. São Paulo: Editora UNESP e Instituto Socioambiental (ISA), Rio de Janeiro: Núcleo Transformações Indígenas (NUTI). 452 p. 16x23cm il. [nota]
Resenha de Nicole Soares Pinto em Mana 14 (1): 249-252, 2008.

GRAHAM, Laura R. 1995. Performing Dreams: Discourses of Immortality among the Xavante of Central Brazil. Austin: University of Texas Press. 290 p. Republicado por Fenestra Books, 2003.
Resenha por Adolfo Neves de Oliveira Júnior no Anuário Antropológico/95: 241-249.
Resenha de Marcela Coelho de Souza em Mana 3 (1): 189-191, 1997.

GRÜNEWALD, Rodrigo de Azeredo. 2001. Os Índios do Descobrimento: Tradição e Turismo. Rio de Janeiro: Contra Capa. 211 p. [nota]

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). 1992. Índios no Brasil. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura. 2ª edição: Brasília: Ministério da Educação e Desporto, 1994, 278 p. [nota]
Resenha de Antonella Tassinari na Revista de Antropologia 37: 335-344, 1994.
Resenha de Marco Antonio Gonçalves em Mana 5 (2): 186-189, 1999.

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. 1998. Coleções e Expedições Vigiadas: Os etnólogos no Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil. São Paulo: Hucitec e Anpocs. 341 p. [nota]
Resenha de Heloisa Maria Bertol Domingues no Anuário Antropológico/99: 213-217.
Resenha de Dolores Newton na Revista de Antropologia 43 (1): 263-270, 2000.

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi, FISCHMANN, Roseli & VIDAL, Lux (orgs.). 2002. Povos Indígenas e Tolerância. São Paulo: Edusp.
Resenha de Laércio Fidelis Dias na Revista de Antropologia 46 (1): 271-279, 2003.

HECKENBERGER, Michael j. 2005. The Ecology of Power: Culture, place, and personhood in the Southern Amazon, A.D. 1000-2000. Nova Iorque e Londres: Routledge. 404 p.
Resenha de Antonio Guerreiro Júnior na Revista de Antropologia 51 (2): 755-762, 2008.

HEMMING, John. 1987. Amazon Frontier: The defeat of the Brazilian Indians. Londres: MacMillan. 547 p.
Resenha de Robin Wright no Anuário Antropológico/87: 249-257.

HÜTTNER, Edison. 2007. A Igreja Católica e os Povos Indígenas do Brasil: Os Ticuna da Amazônia. Porto Alegre: EDIPUCRS.

KEIFENHEIM Barbara. Wege der Sinne: Wabrnehmung und Kunst beiden Kasinawa-Indianern Amazoniens [Caminho dos Sentidos: Percepção da arte entre os índios caxinauas da Amazônia]. Frankfurt e Nova Iorque: Campus Verlag. 264 p.
Resenha de Renate Viertler na Revista de Antropologia 44 (2): 223-226, 2001.

KENSINGER, Kenneth M. 1995. How real people ought to live: The Cashinahua of Eastern Peru. Prospect Heights (Illinois): Waveland Press.
Resenha de J. Melatti no Anuário Antropológico/96: 197-206. [cópia aqui]

KOWALSKI, Andreas. 2008. Tu és Quem Sabe: Aukê e o mito canela de ajuda aos índios. Brasília: Paralelo 15.
Resenha de Eduardo Nunes no Anuário Antropológico/2010-I: 261-265.

KULIJAMAN, Mataliwa & CAMARGO, Eliane. 2007. Kaptëlo: L'origine du ciel de case et du roseau à flèches chez les Wayana (Guyane). Paris: CTHS-Gadepam. 112 p.
Resenha de Edilene Coffaci de Lima na Revista de Antropologia 50 (2): 867-872, 2007.

LABATE, Beatriz Caiuby & ARAÚJO, Wladimyr Sena (orgs.). 2002. O Uso Ritual da Ayahuasca. Campinas: Mercado das Letras, São Paulo: Fapesp. 686 p.
Resenhas de Marcelo Simão Mercante em Campos 4: 211-216, 2003; e em Horizontes Antropológicos 9 (19): 322-330, 2003.
Resenha de Marco Tromboni em Mana 9 (2): 211-215, 2003.

LAGROU, Els. 2007. A Fluidez da Forma: Arte, alteridade e agência em uma sociedadde amazônica (Kaxinawa, Acre). Rio de Janeiro: TopBooks. 565 p.
Resenha de Messias Basques na Revista de Antropologia 50 (1): 421-435, 2007.
Resenha de Luisa Elvira Belaunde em Horizontes Antropológicos 14 (29): 389-391, 2008.

LAGROU, Els. 2009. Arte Indígena no Brasil: Agência, alteridade e relação. Orientações pedagógicas de Lucia Gouvêa Pimentel e William Resende Quintal. Belo Horizonte: Editora C/Arte.

LANGDON, E. Jean Matteson (org.).1996. Xamanismo no Brasil: Novas perspectivas. Florianópolis: Editora da UFSC.

LANGDON, Esther Jean & GARNELO, Luiza (orgs.). 2004. Saúde dos Povos Indígenas: Reflexões sobre antropologia participativa. Rio de Janeiro: Contra Capa e Associação Brasileira de Antropologia.

LARAIA, Roque de Barros. 1986. Tupi: Índios do Brasil Atual. São Paulo: USP-FFLCH.
Resenha de Marco Antonio Gonçalves no Anuário Antropológico/87: 269-276.

LARAIA, Roque de Barros. 1993. Los Indios de Brasil. Madri: Editorial Mapfre. [nota]

LASMAR, Cristiane. 2005. De Volta ao Lago de Leite: Gênero e transformação no alto rio Negro. São Paulo: Editora UNESP e ISA, Rio de Janeiro: NUTI. 288 p. [nota]
Resenha de Maria Inês Smiljanic em Campos 7 (1): 195-200, 2006.

LEA, Vanessa. 2012. Riquezas Intangíveis e Pessoas Partíveis: Os Mẽbêngôkre (Kayapó) do Brasil Central. São Paulo: Edusp e Fapesp. 496 p., il., 18x27cm. [nota]
Resenha de J.C. Melatti no Anuário Antropológico/2011-II: 263-267.

LEITE, Maurício Soares. 2007. Transformação e Persistência: antropologia da alimentação e nutrição em uma sociedade indígena amazônica. Rio de Janeiro: Fiocruz.

LIMA, Edilene Coffaci de & CÓRDOBA, Lorena I. (orgs.). 2011. Os outros dos outros: relações de alteridade na etnologia sulamericana. Curitiba: Ed. UFPR. 274 p.
Resenha de María Augustina Morando em Mana 18 (1): 235-237, 2012.

LIMA, Tânia Stolze. 2005. Um Peixe Olhou para Mim: O povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo: Editora UNESP e Instituto Socioambiental (ISA), Rio de Janeiro: Núcleo Transformações Indígenas (NUTI).

LIMA FILHO, Manuel Ferreira. 1995. Hetohokỹ: Um rito Karajá. Goiânia: Editora da Universidade Católica de Goiás.

LITAIFF, Aldo. 1996. As Divinas Palavras: Identidade étnica dos Guarani-Mbyá. Florianópolis: Editora da UFSC. [nota]

LIZOT, Jacques. 1988. O Círculo dos Fogos: Feitos e ditos dos índios Yanomami. Tradução de Beatriz Perrone Moysés. São Paulo: Martins Fontes. 231 p.
Resenha de Marisa de Fatima Paulavicius na Revista de Antropologia 35: 241-244, 1992.

LOPES DA SILVA, Aracy. 1986. Nomes e Amigos: Da prática Xavante a uma reflexão sobre os Jê. São Paulo: USP-FFLCH (Antropologia, 6). [nota]
Resenha de J. Melatti no Anuário Antropológico/87: 277-286. [cópia aqui]

LOPES DA SILVA, Aracy (org.). 1987. A Questão Indígena na Sala de Aula: Subsídios para professores de 1º e 2º graus. São Paulo: Brasiliense. 253 p., il.
Resenha de Luís Donisete Grupioni na Revista de Antropologia, vols. 30/31/32: 375-377, 1987/88/89.

LOPES DA SILVA, Aracy & GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (orgs.). 1995. A Temática Indígena na Escola: Novos subsídios para professores de 1° e 2° graus. Brasília: Assessoria de Educação Escolar Indígena (MEC), São Paulo: Mari - Grupo de Educação Indígena (USP); UNESCO. [nota]

LOPES DA SILVA, Aracy & FERREIRA, Mariana Kawal (orgs.). 2001. Antropologia, História e Eduacação: A questão indígena e a escola. São Paulo: Global. 398 p.
Resenha de Luciane Ferreira em Horizontes Antropológicos 8 (18): 307-310, 2002.

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VILAÇA, Aparecida. 2006. Quem Somos Nós: Os Wari encontram os brancos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.
Resenha de Christina Osward em Mana 13 (1): 284-286, 2007.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1986. Araweté: Os Deuses Canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, São Paulo: Anpocs. [nota]

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1992. Araweté: O povo do Ipixuna. São Paulo: CEDI (atual ISA). [nota]

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo (org.). 1995. Antropologia do Parentesco: Estudos Ameríndios. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. [nota]
Resenha de J. Melatti no Anuário Antropológico/95: 229-240. [cópia aqui]
Resenha de Denise Fajardo em Mana 3 (1): 202-205, 1997.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2002. A Inconstância da Alma Selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify. 552 p.; 10 fotos.
Resenha de J. Melatti na Folha de S. Paulo, 12-10-2002, caderno "Jornal de Resenhas" p. 3. [cópia aqui]
Resenha de Mauro de Almeida em Mana 9 (1): 161-163, 2003.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo & CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (orgs.). 1993. Amazônia: Etnologia e História Indígena. São Paulo: NHII - USP e Fapesp. 431 p., il.
Resenha de Marcela Coelho de Souza em Mana 1 (1): 220-224, 1995. WEBER, Ingrid. 2006. Um copo de cultura: os Huni Kuin (Kaxinawá) do rio Humaitá e a escola. Rio Branco: Edufac. 255pp.
Resenha de Cecilia McCallum em Mana 13 (2): 586-588, 2007.

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WRIGHT, Robin M. (org.). 1999. Transformando os Deuses: Os múltiplos sentidos da conversão entre os povos indígenas no Brasil. [vol. 1]. Campinas: Editora da Unicamp.

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WRIGHT, Robin M. 2005. História Indígena e do Indigenismo no Alto Rio Negro. Campinas: Mercado das Letras e UNICAMP – FAEP; São Paulo: ISA. 319 p., ilustr. [nota]

Página inicial Lista das Notas

Notas alusivas
a algumas das obras acima arroladas


Meu velho "Roteiro". Há muito tempo divulguei um fascículo pela Série Antropologia de meu Departamento na UnB que foi republicado duas vezes: "A Antropologia no Brasil: Um roteiro" [texto e referências ver aqui]. Voltado a estudantes que iniciavam o curso de graduação, por um lado era ambicioso, pois intentava cobrir todos os ramos da disciplina, mas por outro bastante ralo, uma vez que se fundamentava sobretudo em resenhas e obtuários, que complementavam minha leitura direta das obras dos pesquisadores, que não cobria todas elas. Apesar de tudo, meu trabalho teve uma certa receptividade e cheguei até a ser instado a continuá-lo. Mas a partir de então a produção antropológica brasileira cresceu tanto que hoje não tenho como considerá-la no seu todo.


Línguas. Dentre os livros que cobrem os índios do Brasil como um todo, destaca-se o muito valioso Línguas Brasileiras, de Aryon Dall'Igna Rodrigues, que apresenta sua classificação das línguas indígenas atuais, acompanhada de comentários sucintos, mas muito informativos, e de bibliografia. O livro é fruto de um trabalho continuamente aprimorado de muitos anos. Lembro-me que, quando eu estava redigindo meu livro Índios do Brasil, por volta de 1968/1969, Aryon Rodrigues já se dedicava a essa tarefa e sua classificação estava resumida em umas poucas folhas mimografadas que ele gentilmente me permitiu usar em meu texto. Depois publicou a classificação, já mais aprimorada, na Grande Enciclopédia Delta-Larousse. Nos anos 80, se estou bem lembrado, publicou-a em vários artigos divulgados no periódico Porantim. Finalmente deu-lhe a forma de livro, atualmente em 2ª edição.


Introduções. O pequeno Sociedades Indígenas foi elaborado por Alcida Ramos com o objetivo inicial de integrar a bibliografia de um curso de Introdução à Antropologia à distância pela Universidade de Brasília que não chegou a se concretizar. O livro focaliza não apenas o Brasil, mas a América do Sul não andina. Lembro-me de que, no preparo para publicação, a editora insistiu junto à autora para que retirasse o trecho referente ao casamento entre primos cruzados por temor de que os leitores não o compreendessem, o que não se justificava, pois o livro está redigido em estilo simples, direto e muito claro. O trecho retirado foi publicado em um dos números da Série Antropologia (Brasília: UnB-CIS-DAN).

Para integrar uma coleção espanhola comemorativa do 5° centenário do descobrimento da América, Roque Laraia elaborou o livro Los Indios de Brasil, dirigido a um público mais amplo que o brasileiro. Laraia condensou ao longo do livro da história da conquista, catequese, legislação, regime de trabalho, surtos epidêmicos, a que estiveram sujeitos os índios desde a instalação dos primeiros colonos europeus até a atualidade. Na impossibilidade de tratar de toda diversidade de culturas dentro do espaço de que dispunha, optou por inserir ao longo do seu histórico apenas três capítulos de caráter mais etnográfico cada qual dedicado a um povo ou conjuto de povos culturalmente assemelhados: os antigos tupinambás do litoral, que foram aniquilados no primeiro século e meio de colonização; os terenas atuais, mas sobretudo focalizados no seu envolvimento na guerra do Paraguai e sua posterior exploração e espolição pelas fazendas que se instalaram em Mato Grosso do Sul após o conflito; e os tupis da atualidade. Foi uma solução feliz porque se valeu do conhecimento sobre aqueles indígenas mais ligados a sua história pessoal de pesquisador. Suas pesquisas de campo foram sobre os tupis contemporâneos, no caso, os suruís e assurinis do rio Tocantins, os camaiurás do alto Xingu e os caapor do Maranhão; os tupinambás, por serem os índios sobre os quais os cronistas deixaram a informação mais copiosa e indispensável a quem se prepara para estudar os tupis atuais; os terenas, por ter ele próprio colhido dados entre eles, juntamente com outros cinco colegas (inclusive Alcida Ramos, Roberto DaMatta e Edson Diniz), sob a direção de Roberto Cardoso de Oliveira, dos quais eram então alunos. Além dos textos antropológicos, Laraia é um assíduo leitor de obras literárias, históricas e biográficas, sobretudo referentes ao Brasil, o que o inspira a cultivar um estilo simples, correto e agradável. Sabe sempre ir ao ponto certo e dizer algo mais. Por exemplo, em vez de fazer uma descrição do ritual antropofágico tirando-a diretamente de um cronista, vai buscá-la em Michel de Montaigne, aludindo assim tacitamente ao grande interesse intelectual que os tupinambás despertavam, e ao mesmo tempo apontando as incorreções do filósofo, cujo conhecimento do rito era de segunda mão. Tempera também as aperturas por que passaram os terenas na guerra do Paraguai fazendo alusão ao grande amor que uma mulher deste povo indígena despertou em Taunay, um dos autores de sua predileção desde a juventude. A bibliografia comentada no apêndice do livro é extremamente útil. O fato de ser publicado no exterior, mais do que o espanhol, torna o livro de difícil acesso para o leitor brasileiro, que tem muito a aproveitar, sobretudo o retrospecto que faz dos acontecimentos dos últimos decênios do século XX, relativos às mudanças na política indigenista, a mudança nas atitudes dos missionários católicos, o movimento indígena.

Mércio Gomes aborda as questões indigenistas no seu Os Índios e o Brasil. Traz um entusiasmado prefácio de Darcy Ribeiro comentando que o livro trata de uma nova fase da situação dos índios no Brasil, diferente daquela, anterior, que abordara em seus trabalhos.

Com alvo no aprimoramento da informação sobre índios por parte dos professores de 1° e 2° graus há o volume organizado por Luís Donisete Grupioni, Índios no Brasil, e um outro, A Temática Indígena na Escola, por este mesmo autor mais Aracy Lopes da Silva.

Sobre o longo período que precedeu a chegada dos europeus alguns livros podem ser lidos sem dificuldade por leitores não treinados nas lides arqueológicas. André Prous publicou Arqueologia Brasileira, que reúne e comenta os achados de todo o Brasil, precedendo esse panorama geral com uma introdução às técnicas arqueológicas. Gabriela Martín elaborou um livro semelhante, Pré-história do Nordeste do Brasil, mas restrito aos achados da região que lhe dá título. Por sua vez Anne-Marie Pessis redigiu o livro Imagens da Pré-história, com vistosas fotos das pinturas rupestres do sudoeste do Piauí. Pequenos livros sobre temas pré-históricos voltados para um público amplo foram elaborados, um mais geral, Os Índios antes do Brasil, pelo etnólogo Carlos Fausto, outros dois por Maria Dulce Gaspar: Sambaqui e A Arte Rupestre no Brasil.


Demografia. Ao organizar o volume Demografia dos Povos Indígenas no Brasil, Heloísa Pagliaro, Marta Azevedo e Ricardo Santos trouxeram à atenção dos pesquisadores uma importante tarefa que sempre deixaram descuidada, contentando-se no mais das vezes com a mera contagem dos membros das sociedades indígenas que estudavam. No capítulo inicial os três organizadores fazem uma apreciação crítica dos trabalhos dos poucos estudiosos que até então com mais ou menos cuidado e preparo tomaram a iniciativa que analisar alguns dados demográficos tomados entre povos indígenas. No último eles reproduzem a entrevista com John Early, que realizou um trabalho demográfico modelar com os ianomâmis do rio Mucajaí, com a colaboração do missionário junto com John Peters, que dispunha de dados recolhidos ao longo dos anos em que vivia com eles. Esse trabalho resultou em dois livros de que ambos são autores: The Population Dymamics of Mucajai Yanomama e The Xilixana Yanomami of the Amazon. O demógrafo desenvolveu técnicas apuradas para chegar à idade em anos de cada ianomâmi do Mucajaí, até mesmo daqueles que já tinham falecido antes da instalação do missionário. No penúltimo capítulo Ricardo Santos e Marta Azevedo, junto com Nilza Pereira, fazem uma análise de dados disponibilizados por uma novidade que foi a inclusão nos censos brasileiros de 1991 e de 2000 da possibilidade de os entrevistados se auto-identificarem como indígenas. Num dos outros capítulos, Marta Azevedo estuda a nupcialidade entre os índios do alto rio Negro. Heloísa Pagliaro faz um estudo dos caiabis do Parque Indígena do Xingu, trabalho complementado por um capítulo de Paulo Companário que se vale de um modelo demográfico. Pery Teixeira e Marília Brasil fazem um extrato de um censo realizado entre os saterés (maués) de que participaram várias instituições, com a colaboração dos indígenas. Ricardo Santos, Nancy Flowers e Carlos Coimbra Jr. escrevem um capítulo sobre os xavantes. E Heloísa Pagliaro retoma com Carmen Junqueira um artigo que esta escreveu muito anos atrás junto com Cândido Procópio de Camargo sobre os camaiurás.

A propósito, vale lembrar que William Crocker, em 2001, fez um levantamento demográfico dos canelas, passando um dia em cada casa, com todos habitantes presentes por combinação prévia, tendo contado com o auxílio de dois então alunos de pós-graduação da UnB, Carolina Pareschi e Hélder de Sousa.


Diários e assemelhados. Muitos anos após a morte do famoso etnólogo Bronislaw Malinowski foram publicados seus diários de campo escritos durante sua pesquisa no arquipélago de Trobiand, junto ao extremo oriental da grande ilha Nova Guiné. A repercussão dessa publicação pode ter motivado a iniciativa de alguns etnólogos brasileiros em publicar eles próprios os seus, garantindo o controle daquilo que queriam divulgar. Afinal de contas, um diário de campo não se destina à publicação. É mais um instrumento de registro de dados, reflexão inicial sobre eles e de organização preliminar dos mesmos. Pode conter observações que são meramente curiosas ou até uma idéia decisiva para os resultados da pesquisa. Darcy Ribeiro foi quem primeiro tomou iniciativa de publicar seus Diários Índios, no caso, os da pesquisa com os índios caapor do Maranhão. Roberto Cardoso de Oliveira seguiu-o, publicando Os Diários e suas Margens, escritos nas primeiras etapas das pesquisas com os terenas, de Mato Grosso do Sul, e com os ticunas, do alto Solimões (AM), e, como sugere o título, acrescentando-lhes elucidativos comentários. Já Eduardo Galvão teve sorte semelhante à de Malinowski, pois seus Diários de Campo foram publicados depois de sua morte. Sua editoração coube a Marco Antonio Gonçalves. A julgar pelo título de um dos livros de Betty Mindlin, Diários da Floresta, suponho que seja também a transcrição parcial ou total se alguns de seus diários de campo; resta-me conferir.

Creio que Luiz de Castro Faria não se animaria a publicar suas notas e fotos da expedição em que acompanhou Claude Lévi-Strauss em 1938 pelo interior do Brasil se não fosse o estímulo e ajuda de alguns pesquisadores, antigos alunos seus. Se o volume Um Outro Olhar contivesse apenas suas fotos, já seria extremamente valioso. Mas também contém alguns desenhos seus e ainda suas parcimoniosas notas diárias, às vezes reduzidas a uma única frase ou a uma sucessão de nomes de lugares pelos quais passou. Presente na expedição dirigida por um estrangeiro por exigência do governo de que deveria ser observada por um fiscal brasileiro, mantém-se discretamente à distância da atividade de Lévi-Strauss. Volta-se sobretudo para a observação das habitações tanto indígenas como sertanejas. Também colabora com o médico Vellard, um outro participante da expedição, nas observações antropométricas e na pesquisa sobre o curare nambiquara. Não raro se fica à espera que Castro Faria diga algo mais: o que teria conversado com o etnólogo Buell Quain, que encontrou a bordo e com quem dividiu a cabine na embarcação que o levou a Cuiabá; ou mais detalhes sobre a festa de São Lázaro, que viu em Presidente Pena; ou ainda, como era viajar de trem pela Madeira–Mamoré. Se Castro Faria tivesse feito acréscimos e esclarecimentos ao diário, ele teria ficado bem mais interessante, um resultado que Cardoso de Oliveira obteve nos seus com suas notas à margem. Mas as notas explicativas ao diário de Castro Faria parecem ter sido feitas por seus colaboradores, ainda não nascidos na época em que ele fez o percurso.

Terri Valle de Aquino fez sua dissertação de mestrado há muitos anos sob minha orientação. Trabalhou em mais de uma instituição, mas sempre ligado ou presente no Acre. Disse-me uma vez que fazia uma Antropologia de barranco, referindo-se àqueles declives ou desmoronamentos de margens que servem de porto às embarcações fluviais, e que o pesquisador tem de subir para visitar comunidades, aldeias, colocações e barracões. Reuniu num volume as crônicas que publicou na Gazeta do Acre, mais ou menos semanalmente, de 1987 a 1991, prometendo mais dois volumes. Não deixam de ser como que anotações de campo levadas diretamente ao leitor. Nelas vai narrando diálogos, conflitos, reuniões, viagens e outras ocorrências de que participou ou presenciou nos seus deslocamentos pelo Acre, num constante trabalho de apoio aos indígenas. O volume tem o mesmo título, Papo de Índio, da coluna em que publicou suas crônicas. Alfredo Wagner de Almeida, que conhece Terri de longa data, tendo inclusive trabalhado com ele em pesquisa no Maranhão, prefacia o volume, fazendo um retrato detalhado de sua formação, de suas qualificações, dos princípios por que pauta sua vida, e mostrando inclusive que famosos antropólogos do passado usaram de procedimentos semelhantes para transmitir informações e discuti-las. Aliás, em período anterior ao que estou focalizando Berta Ribeiro publicou seu Diário do Xingu (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979), que não foi uma volta a notas há muito guardadas, mas sim uma opção por esta forma de apresentação dos dados que acabara de recolher, em agosto de 1977.

E embora não se trate de diário, mas constitua um conjunto de textos relacionados a trabalho de campo, pode-se incluir aqui o volume que reúne Cartas do Sertão, de Curt Nimuendajú.


Os pesquisadores sob controle. O livro de Luís Donisete Grupioni, Coleções e Expedições Vigiadas, examina a atuação do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil, desde sua criação em 1933 até sua extinção em 1968, no que tange à pesquisa entre índios, sobretudo a exercida por estrangeiros. A fiscalização não incidia sobre o trabalho de pesquisadores que atuassem sob a égide de instituições nacionais. Mas os que o faziam por conta própria, ainda que brasileiros, tinham de obter autorização do Conselho. Como a atividade etnológica na primeira metade do século XX tinha como um de seus principais objetivos a coleta de artefatos para museus, sem dizer daquelas pessoas que somente a isso se dedicavam, era sobre essas coleções que o Conselho voltava sua atenção, e só permitia sair do País peças iguais às já existentes no acervo das instituições nacionais. Grupioni procura entender essa atuação do Conselho considerando-o no campo indigenista, no qual se relacionava, competindo ou colaborando, com instituições como o Serviço de Proteção aos Índios, o Conselho Nacional de Proteção aos Índios, o Museu Nacional, o Museu Paraense Emílio Goeldi entre outras. Discute seu regulamento inicial e suas modificações, e os critérios de composição, que também mudaram aos longo do tempo. Examinando os arquivos do extinto Conselho, hoje sob a guarda do Museu de Astronomia e Ciências Afins, Grupioni escolhe cinco casos exemplares, representados pelos dossiês de 1) Charles Wagley, 2) William Lipkind e Buell Quain, 3) David Maybury-Lewis, 4) Claude Lévi-Strauss e 5) Curt Nimuendaju. Os três primeiros dossiês são magros em documentos, pois o Conselho limitou-se a autorizar a pesquisa, o que não quer dizer que os requerentes não tenham enfrentado problemas, pelo menos em outras instituições do campo indigenista, como revela Maybury-Lewis sobre seu próprio caso no livro The Savage and the Innocent (Londres: Evans Brothers, 1965). Os dois outros dossiês abrangem um número bem maior de documentos, pois aí o Conselho exerceu também suas atribuições de fiscalização. Lévi-Strauss, por exemplo, teve aceitar ser acompanhado de um fiscal na sua expedição de 1938-1939, que foi Luiz de Castro Faria, o qual teve seu diário, Um Outro Olhar, publicado quase 60 anos depois. Nimuendaju, por sua vez, já exercia suas atividades entre os indígenas desde os primeiros anos do século XX e, ao ser criado o Conselho, teve de adaptar-se às suas exigências. No exame das relações desses pesquisadores com o Conselho, Grupioni dá destaque a um de seus membros, Heloisa Alberto Torres, que era diretora do Museu Nacional. Pessoa de muito prestígio e bem relacionada, Grupioni não se recusa a preceder o nome dela com um respeitoso "Dona". Como estagiário do Museu Nacional na década de 1960, eu mesmo sempre ouvi referência a ela como "Dona Heloisa", embora ausente da instituição, onde já não desempenhava qualquer atividade. Grupioni revela como, no âmbito das discussões do Conselho, Dona Heloisa sempre defendeu os interesses do Museu Nacional, tanto nos casos de compra, partilha ou confisco das coleções trazidas por aqueles que tinham estado em aldeias indígenas, como no estímulo aos etnólogos estrangeiros a levar consigo, à guisa de treinamento, jovens do quadro do Museu (o que só conseguiu de Charles Wagley, que se fez acompanhar, entre outros, por Eduardo Galvão). No empenho de desenvolver a atividade etnológica entre brasileiros pondo-os em contato com pesquisadores estrangeiros, procurou ajuda em Franz Boas, pedindo-lhe que incentivasse alunos da Universidade de Columbia a fazerem pesquisa no Brasil. E foi assim que vieram para cá Charles Wagley, Robert e Yolanda Murphy, William Lipkind, Buell Quain, James e Virginia Watson, Ruth Landes. Dona Heloisa também sempre prestou apoio a Curt Nimuendaju, tanto na fase em que se dedicava principalmente à coleta de artefatos quanto depois, quando, com apoio e orientação de Robert Lowie, da Universidade da California, dedicou-se mais à organização social e aos ritos dos jês e depois dos ticunas. É também uma contribuição de Grupioni acentuar essas duas fases da carreira de Nimuendaju. A publicação de seu livro foi proporcionada pela Anpocs como prêmio de melhor dissertação de mestrado em Ciências Sociais do ano de 1996.


Coleções inacabadas. Duas ambiciosas coleções começaram a ser publicadas, mas infelizmente não continuaram. Uma foi lançada por Darcy Ribeiro, com o indispensável apoio de Berta Ribeiro, aproveitando uma velha idéia de Eduardo Galvão, inclusive o título Suma Etnológica, acrescido de Brasileira. Dos cinco volumes programados, somente saíram três. Numa feliz combinação, eles reúnem artigos de etnólogos recentes e traduções de antigos capítulos comparativos do 5° volume do Handbook of South American Indians, organizado por Julian Steward, que ainda proporcionam uma leitura produtiva.

A outra coleção, Povos Indígenas no Brasil, teve a coordenação geral de Carlos Alberto Ricardo e, diferentemente da anterior, focaliza mais a história e a atualidade das relações de contato, as condições de saúde, de instrução escolar, a situação legal das terras das sociedades indígenas de cada área. A interrupção dessa coleção ainda nos tempos do CEDI, nos anos 1980, depois da publicação de três dos 18 volumes planejados foi, por outro lado, substituída com vantagem pelo volumoso periódico quinquenal Povos Indígenas no Brasil, apelidado "o Pibão", sempre atualizado, que o ISA continua a publicar, bem como pela enciclopédia também intitulada Povos Indígenas no Brasil, de maior alcance que uma coleção impressa porque divulgada na internet.


A conquista do litoral e do planalto brasileiro. Quatro interessantes livros examinam acontecimentos dos séculos XVI e XVII relacionados à conquista e consolidação do domínio sobre os povos indígenas. O que implica em maior abrangência geográfica é Negros da Terra, em que John Monteiro nos faz ver de um outro modo as bandeiras paulistas apresadoras de índios, mostrando que longe de abastecerem de escravos as áreas de agricultura de exportação, levavam os índios para a própria região de São Paulo, onde serviam na cultura de trigo, vendido às outras capitanias. Ronaldo Vainfas, em A Heresia dos Índios, explora a visitação do Santo Ofício às terras do Brasil, para examinar a vida de colonos e índios, estes envolvidos com crenças messiânicas, aqueles sem o controle do clero, e a dificuldades dos visitadores em compreender a situação colonial com que não estavam habituados. Pedro Puntoni, em A Guerra dos Bárbaros, focaliza a série de campanhas contra os índios do interior do Nordeste desencadeadas após a expulsão dos holandeses, entre outros pretextos para combater a heresia introduzida pelos batavos, mas envolvendo uma disputa de jurisdição entre o governo geral e o da capitania de Pernambuco. Cristina Pompa, em Religião como Tradução, examina a atividade missionária nos séculos XVII e XVIII no litoral e no interior do Nordeste, neste último caso como que vendo de um outro ângulo a campanha contra os índios do interior desta região. Fortemente apoiada nas cartas anuais dos jesuítas, são dignas de nota as tentativas de penetrar, ainda que pouco o permitam os documentos, nas crenças e ritos religiosos dos índios nordestinos. Diferentemente dos três primeiros, que são livros escritos por historiadores, o de Cristina Pompa, é uma tese de doutorado em Antropologia, aliás premiada pela Anpocs.


A fronteira colonial. Dois livros, tal como os do conjunto anterior voltados para o exame da conquista, deles se distinguem por focalizarem a disputa em regiões fronteiriças entre metrópoles coloniais distintas. Em As Muralhas dos Sertões, Nádia Farage lida com o comércio entre os holandeses, sediados nas Guianas, e os caribes que apresavam índios para lhes vender. Um comércio que inclusive se sobrepunha às fronteiras portuguesas. Um dos aspectos mais interessantes explorados pelo livro são os distintos significados que holandeses e caribes atribuíam aos índios apresados, simples mercadoria para os primeiros, mas considerados sob o prisma da afinidade pelos segundos. Denise Maldi, em Guardiães da Fronteira, estuda a rivalidade entre a guarnição portuguesas e as missões espanholas do oriente da Bolívia. A notável semelhança entre os dois títulos alude à política portuguesa de então de transformar os índios em defensores das fronteiras coloniais.


Fronteiras nos dias de hoje. Stephen Grant Baines é co-organizador de duas coletâneas sobre fronteiras. A primeira é o volume Nacionalidade e Etnicidade em Fronteiras, que organizou junto com Roberto Cardoso de Oliveira. Num dos capítulos Claudia Leonor Lopez examina a situação ticuna em meio às disputas na tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru, ao longo dos séculos; em outro, Priscila Faulhaber mostra a formação dos miranhas na trama de empresários extrativos grandes e pequenos e acertos diplomáticos referentes à mesma fronteira. Por sua vez, Maxim Repetto estuda como a ação de grandes obras e agro-negócio afetam os indígenas da região circum-Roraima na fronteira Brasil-Venezuela. Há dois capítulos referentes a índios de outros países: Diego Escolar demonstra o sutil afloramento da identidade indígena na região argentina de Cuyo, administrada a partir do Chile no período colonial, e onde viviam os índios huarpes; e Luis Eugenio Campos mostra como a passagem clandestina da fronteira México-Estados Unidos repercute nas fronteiras étnicas no interior do estado de Oaxaca, em que mixtecas e zapotecas ficam à margem de uma cidadania de que supostamente gozariam todos os mexicanos. Os demais três capítulos não se referem a indígenas.

A segunda coletânea é Fronteira e Espaços Interculturais, que Baines organizou com Leandro Mendes Rocha. Este volume não se atém apenas aos casos que se desenvolvem nas fronteiras internacionais. Assim, no capítulo de Giovani José da Silva e José Luiz de Souza, a retomada da identidade quiniquinau, que esteve submersa na terena, não parece depender do cenário em que se desenvolve, a fronteira Brasil-Paraguai. Também não está presente no artigo crítico da educação bilíngue, de Maria do Socorro Pimentel da Silva. Por outro lado, a fronteira internacional fica demasiado extensa no capítulo de Hisakhana Corbin. É em três outros capítulos que a fronteira internacional aparece mais nitidamente: no de Stephen Baines e no de Mariana Cunha Pereira, ambos relativos à região limítrofe Brasil-Guiana, e no de Claudia Leonor Lópes Garcés referente à fronteira Brasil-Guiana Francesa.


Conquistadores, missionários e profetas. Robin Wright reuniu no volume História Indígena e do Indigenismo no Alto Rio Negro vários artigos seus, sobretudo centrados nos baníuas. Fiz um breve comentário de seu conteúdo no capítulo F1 de minhas Áreas Etnográficas da América Indígena [ver aqui]

Por sua vez Antonio Porro reúne no volume O Povo das Águas artigos seus em que reconstitui cacicados indígenas que viviam às margens do rio Amazonas no tempo da penetração européia, procura identificar as etnias que os mantinham e que destino tiveram.


Missionários e missionados. O volume Deus na Aldeia, organizado por Paula Montero, põe seu foco nos missionários que atuam entre os indígenas desde os primórdios do período colonial até os dias de hoje. Como linha geral, os textos para ele preparados procuram mostrar como o missionário, apesar de estar numa posição de domínio sobre o grupo catequisado, não nega de antemão todo o conjunto daquilo que toma como a religião indígena, mas procura na cultura dos missionados pontos de apoio onde assentar, ainda que provisoriamente, sua pregação. Por sua vez, os indígenas não se comportam simplesmente como algo a ser moldado, mas procuram interpretar de seu ponto de vista cultural aquilo que lhes é apresentado. Iniciado com um capítulo da organizadora, que nele ensaia uma teoria da mediação cultural, o volume prossegue com os capítulos de Nicola Gasbarro, Cristina Pompa e Adone Agnolin que têm como cenário o período colonial. O texto de Gasbarro, em vez de Brasil, aprecia as reflexões do jesuíta Bressani no seu trabalho entre os hurões da região dos Grandes Lagos. Cristina Pompa apoia o seu na mesma pesquisa que produziu Religião como Tradução. Por sua vez Agnolin faz uma interessante incursão nos catecismos destinados aos indígenas, em que a própria língua tupi é disciplinada e gramaticalizada pelos missionários, inclusive com a inserção e termos em português, ou compostos por eles com morfemas tupi, ou ainda híbridos, para verter noções próprias do catolicismo, ausentes da cultura dos missionados. O capítulo seguinte, de Marta Amoroso, discute a atuação de missionários capuchinhos entre os mundurucus na segunda metade do século XIX. A forte oposição desses franciscanos à exploração exercida pelos regatões fez com que estes conseguissem do governo que lhes fosse retirada a administração secular da comunidade. O capítulo seguinte, de Marcos Pereira Rufino, é bastante esclarecedor sobre a orientações tomadas pelos missionários católicos após o Concílio Vaticano II, da encarnação, passando pela opção preferencial pelos pobres até a inculturação. Seguem-no os dois únicos capítulos referentes a missionários evangélicos, ambos voltados para a região do Oiapoque: o de Ronaldo Almeida examina a orientação oposta à de inculturação, que é a transculturação; o de Artionka Capiberibe se insinua sobre os motivos que levaram os palicur a converterem-se ao pentecostalismo. Seria a solução para uma vida cheia de conflitos violentos, segundo os missionários; uma experiência semelhante à xamânica, mas acessível para todos, segundo a autora. No capítulo seguinte, referente à aldeia Meruri dos bororos, Aramis Luís Silva toma como mote de suas reflexões o contraste entre um museu criado pelos salesianos que expõe artefatos inclusive aqueles dos começos da missão, trazidos de volta da Itália, em prédio cuja estrutura e disposição das peças relembram a aldeia e a cosmologia bororo, e um projeto de um bororo para reconstrução de um arremedo de aldeia tradicional que ele próprio dirigirá. A essa iniciativa dos salesianos, que assim querem se redimir do definhamento da cultura bororo que eles próprios promoveram, se contrapõe um plano de um bororo que mal consegue reconstituir as regras pelas quais se pautavam a organização e vida das antigas aldeias. O capítulo de Maurício Arruti tem por centro a retomada da ilha de São Pedro pelos xocós, com o apoio do Cimi e do bispo de Propriá, cuja conversão à causa dos pobres se deu publicamente por ocasião de um confronto entre moradores e os representantes da Codevasf que iriam desalojá-los. Finalmente o último capítulo, de Melvina de Araújo, explora as comemorações do natal entre os macuxis. Esse volume se destaca de outras coletâneas pelas frequentes referências que os contribuidores fazem aos capítulos uns dos outros. Também traz um substancial glossário de verbetes assinados sobre temas eclesiásticos.


Da história do contato no Brasil Central. Sobre esse tema há dois livros que exploram distintos aspectos das relações dos bororos com os brancos, ambos elaborados na USP. Um deles é A Duras Penas, de Renate Viertler, constituído pela 1ª e pela 3ª parte de sua grande tese de livre-docência Aroe J’Aro, apresentada em 1982 e de cuja banca examinadora tive a honra de participar. Talvez a 3ª parte tenha passado por algum corte ou acréscimo. A 2ª e a 4ª parte, dedicadas à sociocosmologia e ao funeral bororo, parece que não vieram até agora a constituir um outro livro. Essa reconstituição histórica, muito rica em detalhes, centra-se nos bororos orientais, ou seja os que estão a leste do rio Paraguai, sem deixar de referir-se aos ocidentais. A diagramação e revisão tipográfica deixam um tanto a desejar e a redução do tamanho dos mapas dificultam demasiadamente a sua consulta.

O outro, de Sylvia Caiuby Novaes, proporciona agradável leitura, pelo estilo, pela diagramação, pelas boas e sugestivas fotos, antigas ou tomadas pela própria autora, e outras ilustrações que denunciam seu gosto pelas artes visuais, que emolduram o estudo das relações entre os bororos e os salesianos, desde a instalação destes missionários no final do século XIX até o final do seguinte, interpretadas segundo a metáfora de um Jogo de Espelhos, que dá título à obra. É sua tese de doutorado, com base em trabalho de campo e de consulta a arquivos, inclusive dos próprios salesianos. Norteiam o trabalho os conceitos de identidade, auto-imagem e a noção de pessoa.

Na história bororo figuram os caiapós do sul, pois o bandeirante Antônio Pires do Campo se valeu dos primeiros para combater os segundos. No começo do século XVIII, época da descoberta do ouro em Mato Grosso e em Goiás, os caiapós do sul dominavam um amplo território que se estendia pelo norte de São Paulo, Triângulo Mineiro, sudoeste de Goiás e leste de Mato Grosso do Sul, ou seja, entre o caminho terrestre que ligava a cidade de São Paulo à de Goiás, e o percurso fluvial que levava daquela cidade a Cuiabá. No início do século XX, os bororos ainda se lembravam de um povo inimigo que chamavam de "caiamo", conforme contam os salesianos Colbacchini e Albisetti no seu clássico livro Os Bororos Orientais. Pois Odair Giraldin, em Cayapó e Panará, fez uma fascinante reconstituição das relações entre os caiapós do sul e os brancos, como estes os cambateram, como reuniram parte deles no aldeamento D. Maria I, próximo cidade de Goiás, e como outra parte teria migrado para a fronteira Mato Grosso-Pará, onde vieram finalmente a ser contatados na segunda metade do sèculo XX e reconhecidos conforme sua auto-denominação panará.

Comentário ligeiramente mais extenso sobre o livro de Giraldin se encontra no capítulo C2 [ver aqui] e sobre os livros de Viertler e Novaes no capítulo C1 [ver aqui] de minhas Áreas Etnográficas da América Indígena.


História de uma língua. Em Rio Babel, José Ribamar Bessa Freire faz a história social da língua geral amazônica, ou nheengatu. Ela se formou a partir da língua dos tupinambás da região do estuário do rio Amazonas, que já era familiar aos conquistadores portugueses que ali chegaram no início do século XVII, pois falada em outros trechos do litoral brasileiro de onde provinham. Aplicada no trato com os índios das mais diversas origens e idiomas, reunidos em aldeamentos missionários, estabelecimentos agrícolas, serviços domésticos e urbanos em Belém, deu origem a uma nova língua, que se expandiu ao longo dos séculos XVII e XVIII, acompanhando a conquista e colonização da Amazônia. Servia também no contato com índios que ainda viviam em suas aldeias tradicionais e que usavam em suas aldeias as línguas vernáculas. Os brancos a entendiam e falavam, muitos como sua única língua, que era aprendida também pelos escravos negros. No início do século XIX a língua geral amazônica estava consolidada e era a hegemônica. Mas é neste mesmo século que começa a ceder à língua portuguesa, a única presente nos programas das escolas, a princípio extremamente deficientes, mas que vão se multiplicando e melhorando lentamente. Um número enorme falantes da língua geral morrem durante a Cabanagem. A navegação a vapor leva novos moradores, falantes do português, para o interior da Amazônia, ao mesmo tempo põe os falantes da geral em contato com o exterior. A grande migração de nordestinos, falantes do português, no período mais intenso da extração da borracha, faz a geral retrair-se de vez. Nos dias de hoje ainda é falada no alto rio Negro, seja como língua de contato entre brancos e índios, que têm outras como vernáculo, seja por índios que a fizeram sua, como os barés. Recentemente, o município de São Gabriel da Cachoeira a incluiu, com o tucano, ao lado do português, como língua oficial. Num texto simples e bem escrito, com temas introduzidos por sugestivas epígrafes, Bessa Freire expõe as etapas de expansão e retração da língua geral, estima o número de seus falantes, procura evidências de seu uso, por que pessoas e em que situações, fundamentado nos textos de missionários, funcionários coloniais, naturalistas, publicados ou guardados em arquivos. São de especial interesse as linhas que dedica a pesquisadores do passado, que colheram narrativas em língua geral, como José Vieira Couto de Magalhães, Charles Frederick Hartt, João Barbosa Rodrigues, Ermano Stradelli e Antônio Brandão Amorim, dentre os quais concede maior destaque ao primeiro, por sua acuidade e agudas reflexões. Focaliza também os autores literários regionais que retrataram o uso do nheengatu, como Lourenço da Silva Amazonas, Francisco Gomes de Amorim e Herculano Marques Inglês de Souza. Aponta nas obras destes, em português, frases e expressões em língua geral, num entrosamento que se torna cada vez mais esmaecido, à medida que esta vai cedendo seu lugar àquela na sociedade amazônica.


Conhecendo os guaranis mediante um projeto de apoio. De 1973 a 1976 Rubem Thomaz de Almeida participou do Proyecto Paĩ-Tavyterã, no Paraguai, cuja orientação decorria das críticas formuladas na Reunião de Barbados, de 1971, dirigidas aos Estados sul-americanos e às missões religiosas pela maneira com que lidavam com os povos indígenas e mesmo aos antropólogos, por não lhes oferecer apoio para mudarem a situação, limitando-se às pesquisas de interesse acadêmico. Com esse aprendizado, elaborou seu próprio Projeto, chamado Kaiowa-Ñandeva, nomes dos dois ramos dos guaranis que vivem em Mato Grosso do Sul, junto com os quais o desenvolveu de 1976 a 1981. Kaiowa é o mesmo ramo que no Paraguai se denomina Paĩ-Tavyterã. Seu livro Do desenvolvimento Comunitário à Mobilização Política é a dissertação de mestrado que defendeu no Museu Nacional sobre a realização do Projeto, que teve inicialmente como um de seus principais objetivos libertar os caiuás e nhandevas da "changa", nome dado ao trabalho temporário remunerado nas fazendas vizinhas. A estação em que geralmente eram recrutados pelos fazendeiros era a mesma em que tinham de preparar suas próprias roças, o que concorria para diminuir sua produção para subsistência e dificultar mais ainda conseguir um excedente comercializável. Diferentemente de outros planos de apoio pensados por outras agências (missões, Funai), elaborados em gabinetes e sem consulta aos índios, que propunham o uso de tratores, fertilizantes químicos e outros recursos técnicos que estavam fora do alcance dos assistidos, o Projeto Kaiowa-Ñandeva tinha como primeira providência ouvi-los sobre suas aspirações, operar com seu consentimento e sua participação, atendo-se o antropólogo à assessoria e obtenção dos recursos junto a instituições financiadoras. A primeira providência pensada de comum acordo foram as roças coletivas, uma por comunidade, com apoio de alimentos para os participantes de modo a não se verem obrigados a recorrer à "changa". Nem todas as comunidades as quiseram e nem todas levaram os trabalhos a bom termo. As operações podiam dispor da colaboração ou sofrer a resistência dos chefes de posto indígena ou dos missionários. Não cabe aqui entrar em detalhes. Thomaz de Almeida vai relatando como teve de aprender a língua guarani, como começou a entender o modo de ser e a organização social dos guaranis, como soube tirar lições dos fracassos, como por exemplo, descobrir que muito dos recursos desviados eram alocados a índios parentes dos participantes e usados no trabalho das roças individuais, que não eram desestimuladas e mostraram um aumento de produção. O que foi se tornando visível, com andamento do Projeto, pelos antropólogo e pelos índios, foi a falta de terras. Nem todas as comunidades (tekoha) tinham terras demarcadas, as que as tinham nem sempre correspondiam a tudo que lhes cabia de direito; havia também aquelas que viviam em suas terras dentro das fazendas que as tinham açambarcado. A expulsão de guaranis dessas fazendas fazia com que migrassem para as de outras comunidades, diminuindo-lhes a área cultivável. A Funai, seja por inoperância, seja por corrupção de funcionários aliados a fazendeiros, dava a situação das terras indígenas de Mato Grosso do Sul como resolvida, propondo solucionar sua falta com a utilização de métodos intensivos de cultivo. A consciência desses problemas fez os guaranis se voltarem para as reivindicações de terra, cujo desenrolar o livro não aborda. No final do livro Thomaz de Almeida ainda faz referência a certas mudanças posteriores à vigência do Projeto, como a diminuição da influência das missões protestantes tradicionais, um certo desfocamento do trabalho do Cimi, o aumento e multiplicação das denominações pentecostais, uma dimuição do poder dos postos da Funai, sem dizer dos administrados pelos próprios índios, e até das comunidades sem posto; a própria "changa", que o pesquisador conclui como inevitável, estava tomando a forma de trabalho nos canaviais das empresas produtoras de álcool combustível. Enfim, o livro é um excelente exemplo de como o desenvolvimento de uma atividade de colaboração com indígenas com o objetivo a atender interesses indígenas pode redundar em maior conhecimento etnológico sobre os mesmos.


Guaranis litorâneos. Quem julga a dissertação de mestrado de Mauro Cherobim, Os índios Guarani do Litoral do Estado de São Paulo, pelo 1º capítulo, sobre os objetivos e procedimentos, fica um tanto desestimulado pela bibliografia antiquada que toma como inspiração. Nada diz de seu trabalho de campo e, em outras partes do livro, faz um uso pouco refletido das noções de frente e de destribalização (p. 81). O capítulo seguinte, que descreve a região em que vivem os guaranis tema do trabalho, é interessante por lembrar os diversos cientistas sociais que a ela dedicaram estudos. Entretanto, falta um mapa que mostre seus diferentes setores (o que localiza os aldeamentos guaranis, antes do 1º capítulo é demasiado exíguo). Mas ao longo do restante do livro podem-se pinçar tópicos que despertam bastante interesse, que resumi no cap. B3 de minhas Áreas Etnográficas da América Indígena [ver aqui].

Por sua vez Aldo Litaiff, em As Divinas Palavras, descreve a situação de índios mbiás, um ramo dos guaranis, levados em 1987 para Bracuí, em área próxima Angra dos Reis e da usina nuclear Angra I, no estado do Rio de Janeiro. Essa transferência, feita pela Funai, de acordo com o governador do estado, então Leonel Brizola, numa iniciativa a que Darcy Ribeiro não estava alheio. Tinham sido retirados da ilha de Cotinga, próxima de Paranaguá (PR), onde não estavam satisfeitos, por ser a terra imprópria para a agricultura. Como alternativa para subsistir faziam artefatos para vender aos turistas que frequentam o litoral, mas a eles chegavam com grande dificuldade arriscando-se numa travessia pelo mar. Apesar de as terras de Bracuí serem melhores, os mbiá continuaram preferindo fazer os artefatos, para os venderem na cidades próximas e na beira da estrada Rio-Santos, comprando seus alimentos no comércio, inclusive cachaça, com a resultante subnutrição, principalmente das crianças. No exame dos diferentes aspectos da vida cultural e social dos aldeados em Bracuí, destacam-se a constatação de seu frequente deslocamento entre aldeias, seus depoimentos sobre os locais em que viveram no passado e dos problemas neles encontravam, o modo como retratam os índios de outras etnias com que viveram, como xoclegs e caingangs, e mesmo os nhandevas, outro ramo dos guaranis. Sem dizer de sua aspiração de manter-se longe da vizinhança e da interferência dos brancos.


No litoral baiano. Em Os Índios do Descobrimento, Rodrigo Grünewald estuda os pataxós que vendem artesanato nos pontos históricos e turísticos de Barra Velha (próximo ao monte Pascoal) e do ilhéu da Coroa Vermelha e que auto-constroem sua identidade como membros do grupo indígena que assistiu à chegada de Cabral. Um breve resumo de seu texto se encontra no capítulo B2 de minhas Áreas Etnográficas da América Indígena [ver aqui].


Análises de drama. O livro de Vânia de Paiva e Souza, As Fronteiras do Ser Xukuru, é sua dissertação de mestrado defendida na UFPE e premiada no Concurso Nelson Chaves da Fundação Joaquim Nabuco. Estuda os esforços desenvolvidos pelos xucurus, das vizinhanças de Pesqueira, no agreste pernambucano, pela recuperação de suas terras, perdidas ao longo dos anos para os fazendeiros e posseiros. Para compreender a questão de todos os seus ângulos e dos pontos de vista dos diferentes agentes envolvidos (índios, fazendeiros, posseiros, Funai, Cimi, diocese etc.), recorre ao método da análise de drama de Victor Turner. Um primeiro drama é o desencadeamento da luta pela terra a partir dos protestos contra uma projeto da Sudene que iria incidir sobre as terras que reconheciam como suas. O segundo se desenvolve a propósito do local chamado Pedra d'Água, que para eles era também de importância religiosa e ritual. O terceiro eclode a partir da proposta do pároco de Cimbres de retirar os xucurus de local chamada Guarda para ali construir um santuário.

Também Maria Helena Barata, em A Antropóloga entre Facções Políticas Indígenas valeu-se da análise de drama para o estudo. A pesquisadora começa esse livro, que foi dissertação de mestrado na UnB, pela narração de sua própria expulsão de uma aldeia pucobiê, no Maranhão, pouco tempo após ali se instalar pela primeira vez. Tendo-lhe sido permitido o retorno pouco tempo depois, ela soube tomar esse transtorno, esse drama, a seu favor, como ponto de partida para a compreensão da atuação das facções políticas pucobiês no contexto do contato interétnico.


Índios na cidade. De todos os índios presentes em São Gabriel da Cachoeira, no rio Negro, Cristiane Lasmar, no seu livro De Volta ao Lago de Leite, escolhe abordar os oriundos do Uaupés e Tiquié, que falam, ou vieram a falar (como os tarianas) línguas da família tucano, com especial atenção nas mulheres. Faço um resumo desse interessante livro no capítulo F1 de minhas Áreas Culturais da América Indígena [ver aqui].


O Serviço de Proteção aos Índios. Em Um Grande Cerco de Paz, Antonio Carlos de Souza Lima, aborda a atuação do Serviço de Proteção aos Índios ao longo de toda a sua existência, mas concentrando-se sobretudo nos seus vinte primeiros anos (1910-1930). Focaliza a outra face da moeda mostrada por Darcy Ribeiro no seu livro A Política Indigenista Brasileira (Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1962), centrado na figura de Rondon, em seus princípios, na atuação heróica de equipes sertanistas em casos exemplares de atração de indígenas, relacionando a decadência do SPI ao abandono dos ideais do grupo que auxiliou o famoso militar nos primeiros anos, substituídos por funcionários deles desvinculados. Para Souza Lima, Darcy Ribeiro teria reproduzido o discurso de auto-promoção, uma como que história oficial do SPI, semelhante às que têm outros órgãos públicos. O livro de Souza Lima é presidido pela noção de conquista, que caracterizaria a maneira de o SPI atuar, tal como se havia feito com os indígenas, desde a chegada por primeiros europeus. Apesar dos brindes e gestos amistosos, sem fazer uso das armas, os sertanistas faziam um trabalho de envolvimento dos grupos indígenas, "num grande cerco de paz" (expressão tomada de Rondon para dar título ao livro, p. 130), deslocando-os para os locais mais favoráveis à atuação do SPI, ao mesmo tempo que abriam as terras à ocupação dos brancos. A pretexto de assistência, o SPI envolvia-se com atividades que não eram do interesse dos índios, mas do próprio órgão ou da orientação vigorante no governo: atuação na "Localização de Trabalhadores Nacionais", expressão que fazia parte do nome do órgão até 1919, escolha das terras segundo sua produtividade e proximidade com as vias de comunicação de modo a colocar os indígenas no plantio de gêneros geradores de maiores rendimentos, vigilância das fronteiras internacionais. Muito dos esforços do SPI também se dirigiram à conquista da exclusividade do poder tutelar. Os altos e baixos de sua trajetória se relacionam, entre outros, a seu deslocamento por diferentes ministérios em função de disputas de grupos de interesses e mudança de orientação governamental, e não às flutuações do prestígio de Rondon. O livro se apóia numa intensa pesquisa documental e apresenta um grande número de notas substanciais.

Lendo, porém, O Indígena e a República, livro de José Mauro Gagliardi, publicado antes do de Souza Lima, percebo que continua a ser de fundamental importância refletir sobre os argumentos e motivos três correntes de opinião que se enfrentaram na sociedade civil no período de transição entre a monarquia e a república: os que admitiam a exterminação dos grupos indígenas que resistissem ao avanço das frentes econômicas para o interior do País; os que defendiam a continuação da civilização e catequese dos índios nas mãos dos missionários católicos como tinha acontecido até então; e os que exigiam que o Estado assumisse a assistência aos índios nos lugares em que viviam, garantindo-lhes suas terras e sem a imposição de credos religiosos. O autor se demora na apresentação das idéias de mais de um integrante de cada corrente, inclusive a fascinante figura da educadora Leolinda Daltro. É digno de nota que, apesar de antagônicas, as três correntes concordavam na admissão da inferioridade cultural dos índios, ainda que por razões diferentes: os partidários da exterminação por só verem neles um obstáculo à exploração econômica das terras que ocupavam e incapazes de progresso; os defensores da catequese religiosa, por não se conduzirem pelo que consideravam a verdadeira fé; e os campeões da intervenção estatal e leiga, geralmente de orientação positivista, por ainda estarem no estado evolutivo do feitichismo a partir do qual deveriam ajudá-los a ascender.


Os índios como sujeitos (no duplo sentido: subjugados e agentes). No livro "O Nosso Governo", sua tese de doutoramento no Museu Nacional, João Pacheco de Oliveira faz uma avaliação das teorias referentes ao contacto interétnico e se propõe abordar o caso dos índios ticunas, do alto Solimões com uma nova orientação, que não se limite a colocar a sociedade indígena e a sociedade envolvente em polos opostos. Vale-se do conceito de situação social, proposto por Max Gluckman, em que se conjugam um conjunto de atores sociais (indivíduos ou grupos, suas ações e comportamentos, e um evento ou conjunto de eventos que lhe servem de referência em um dado tempo). A esse conceito, que é solidário com o de campo, acrescido da consideração de esquemas de distribuição de poder entre os atores, Pacheco de Oliveira denomina de situação histórica. Assim reconstitui a situação no tempo dos seringais e depois a formação do campo indigenista. A discussão dos elementos etnográficos que se evidenciam ao longo dessa reconstituição lhe dá oportunidade de mostrar como sua abordagem lhe permite ir mais além do que certas interpretações de pesquisadores anteriores — no caso, Curt Nimuendaju, Roberto Cardoso de Oliveira, Maurício Vinhas de Queiroz, Ari Oro —, conjugando a legitimação tanto das autoridades indigenistas e como dos líderes indígenas, os surtos messiânicos, as mudanças sociais e políticas, na mesma matriz cosmológica de sucessivas quedas, sempre redimidas pela providência do que os ticunas chamam de "o nosso governo", que não se confunde com o governo brasileiro, nem é o próprio herói mitico Yoi, mas a atuação em favor deles por agentes externos que atuam sob a inspiração desse herói e de outros imortais.

Por sua vez, duas volumosas coletâneas, publicadas com dez anos de diferença, apesar de projetadas quase simultaneamente, também têm como um de seus objetivos realçar a capacidade de iniciativa e de escolha dos indígenas, mesmo quando limitadas por uma situação de sujeição. Nisso se assemelham ao livro de João Pacheco de Oliveira. Mas a semelhança fica aí, pois cada colaborador dessas coletâneas explora seu tópico com sua própria orientação, sem outro compromisso teórico com os demais. Uma das coletâneas é a História dos Índios no Brasil, organizada por Manuela Carneiro da Cunha. A outra é Pacificando o Branco, dirigida por Bruce Albert e Alcida Ramos. Além desse objetivo comum e de cinco colaboradores que comparecem numa e noutra coletânea (mas sem repetirem seus textos), no mais elas diferem.

Fazendo jus a seu próprio título, a História dos Índios no Brasil tem mais profundidade temporal. O volume se inicia com uma introdução da organizadora. Prossegue com uma seção de textos mais gerais relativos a dados antropobiológicos (Francisco Salzano), sítios pré-históricos da Amazônia (Anna Roosevelt) e do restante do Brasil (Niède Guidon), uma tentativa de reconstituição da movimentação dos povos indígenas no passado com base em dados linguísticos (Greg Urban) e uma discussão da importância das coleções de museus para a história indígena (Berta Ribeiro e Lucia van Velthem). A seguir vem uma seção referente à legislação e política indigenista nos períodos colonial (Beatriz Perrone-Moisés), imperial (Manuela Carneiro da Cunha) e republicano (Antônio Carlos de Souza Lima). A seção seguinte, relativa à alta Amazônia, inclui textos sobre o Solimões (Antônio Porro), axanincas (France Marie Renard-Casevitz), jívaros e seus vizinhos (Anne Christine Taylor), panos (Philippe Erikson), noroeste da Amazônia (Robin Wright) e vale do rio Branco (Nádia Farage e Paulo Santilli). Depois vem a seção sobre a Amazônia meridional, que inclui os capítulos sobre a área Madeira-Tapajós (Miguel Menéndez), os muras (Marta Amoroso), os caiapós (Terence Turner), os cuicuros e o alto Xingu (Bruna Franchetto) e os xavantes (Aracy Lopes da Silva). A última seção, sobre o Nordeste, o Leste e o Sul, inclui textos sobre os tupinanmbás (Carlos Fausto), a política indigenista em Goiás nos séculos XVIII e XIX (Mary Karasch), os botocudos do Brasil oriental (Maria Hilda Paraíso), indígenas do Nordeste (Beatriz Dantas, José Augusto Sampaio e Maria Rosário de Carvalho), o Chaco (Silvia Schmuziger) e os guaranis dos séculos XVI e XVII (John Monteiro). O volume termina com apêndices referentes às coleções etnográficas de 1650 a 1955 (Sonia Ferraro Dorta) e à legislação indigenista de 1500 a 1800 (Beatriz Perrone-Moisés). A ilustração é muito rica: fiquei surpreendido em ver aquarelas de Francisco Requena, o militar espanhol que ocupou Ega (Tefé) por vários anos, para receber em troca Tabatinga, mas sem sucesso; impressiona também a planta de uma aldeia jê assediada por tropas, reproduzida no interior da capa e da contracapa.

Atendo-se aos séculos mais recentes, Pacificando o Branco reúne 17 textos sobre povos indígenas que se localizam ao longo da fronteira setentrional e ocidental da Amazônia brasileira. O conjunto foi elaborado segundo um plano cujo objetivo é mostrar que a dominação dos brancos sobre os povos indígenas não é aceita resignada e passivamente por estes. Os índígenas reagem a esse domínio das maneiras mais diversas e nem sempre evidentes. Suas cosmologias consideram a origem dos brancos e nos incluem em sua classificação dos seres, seu xamanismo denuncia nossos atos de agressão e rapina e ajusta o discurso de nossos ecologistas a sua concepção da floresta e do ambiente e dos cuidados que lhes são devidos, devolvem-nos as acusações de canibalismo a ele equiparando o recrutamento forçado de mão-de-obra, atribuem suas enfermidades às emanações maléficas dos desejados artigos industrializados, adaptam sua dieta e cuidados com o corpo à prevenção dessas moléstias, dirigem-nos o discurso com retórica, força e incisividade diplomaticamente estudadas, bem como veiculam na arte e na música os sentimentos e sentidos que neles despertamos.

Precedidos por uma Introdução (Bruce Albert), os capítulos que compõem o volume abordam os calinhas (galibis) da Guiana Francesa (Odile Renault-Lescure), os uaiampis do mesmo país (Pierre & Françoise Grenand) e do Brasil (Dominique Gallois), os uaianas (Lúcia Hussak van Velthem), os uaiuais (Catherine Howard), os uaimiris-atroaris (Stephen Baines), os uapixanas (Nádia Farage), os macuxis (Paulo Santilli), os ianomâmis (Bruce Albert), os arapaços (Janet Chernela & Eric Leed), os wakuénai (baníuas ou curripacos) da Venezuela (Jonathan Hill) e do Brasil (Robin Wright), os ticunas (João Pacheco de Oliveira), os matis (Philippe Erikson), os caxinauás (Cecilia McCallum) e os araras (Márnio Teixeira Pinto). Os últimos são os únicos que não estão na fronteira, mas sim junto ao rio Iriri, afluente do baixo Xingu. O volume é prefaciado por Manuela Carneiro da Cunha, aliás organizadora da outra coletânea.


Reconstituição étnica e reelaboração cultural. Recusando noções como "etnogênese", "novas etnicidades", "índios emergentes", João Pacheco de Oliveira vai buscar na poesia de Torquato Neto a expressão A Viagem da Volta como a mais adequada para designar o processo de recomposição, territorialização e caracterização étnica dos grupos indígenas nordestinos e dar título ao volume em que reuniu contribuições de diferentes pesquisadores sobre esse tema. Depois da introdução do organizador do volume, o capítulo de Sidnei Peres examina o modo de proceder do SPI com respeito às terras indígenas do Nordeste, mostrando que ele inicialmente atuava na pressuposição do caráter temporário das terras reconhecidas aos índios, fadados à assimilação: parte delas se arrendavam a não índios e se evitavam os confrontos com os poderosos da região; em certos casos de resistência dos arrendatários ou invasores em sairem das reservas apelava-se até para a redução das terras indígenas, de modo a deixar-lhes lugar (a expulsão às avessas); foi pouco a pouco que o SPI chegou à conclusão de que as reservas deviam de ser exclusivamente para os índios. A seguir vêm seis textos sobre diferentes povos indígenas. O primeiro e o último deles, de Henyo Trindade Barretto Filho e Carlos Guilherme do Valle, sobre respectivamente os tapebas e os tremembés, da costa do Ceará, deixam entrever a falta de unanimidade dos integrantes das comunidades em assumir nos mesmos termos a identidade indígena; no texto de Valle, a noção de situação étnica, inspirada na de situação histórica de João Pacheco de Oliveira, por vezes parece deslizar para o sentido mais prosaico de localização. Os outros quatro textos referem-se a grupos que se dispõem junto ou nas vizinhanças do trecho do rio São Francisco desde o ponto mais setentrional de seu leito até sua foz. O de Rodrigo de Azeredo Grünewald, sobre os aticuns, da serra de Umã, no município pernambucano de Floresta, é bastante claro no recurso à identidade indígena como meio de garantir a posse da terra que estava sendo invadida por intrusos. O de José Maurício Andion Arruti, sobre os pancararus das vizinhanças da cachoeira de Paulo Afonso e sua contribuição na formação ou apoio para o reconhecimento de outros grupos, é o texto de espectro mais abrangente por examinar essas relações; traz também uma boa descrição do toré, requisito fundamental estabelecido pelo órgão protecionista para o reconhecimento da identidade indígena. O capítulo de Sheila Brasileiro, sobre os quiriris dos municípios baianos de Banzaê e Quijingue, na bacia do rio Vaza-barris, na região onde ocorreu o movimento de Canudos, de que participaram, é o que explica com mais clareza o que era uma légua em quadra, medida colonial usada nas concessões de terra feitas às comunidades indígenas pelos reis portugueses: era um octógono cujo centro distava de uma légua de cada ângulo da figura, que equivalia a uma área de 12.320 hectares. No século XX os quiriris ainda sabiam apontar aos funcionários do órgão indigenista onde estavam os marcos desses ângulos, apesar de destruídos pelo tempo ou por invasores. O capítulo de Silvia Aguiar Carneiro Martins, sobre os xucurus-cariris do município alagoano de Palmeira dos Índios, mostra como foram conseguindo, com o apoio de diferentes agências, terras dentro ou fora da légua em quadra em cujo centro hoje está a referida cidade. O volume poderia ter recebido outras contribuições, não fosse seus autores já estarem com outros compromissos, como Vânia Rocha Fialho de Paiva e Souza, que publicou o livro As Fronteiras do Ser Xukuru.

Pena que um livro tão informativo e que aborda a situação dos índios nordestinos com uma orientação bastante lúcida pouca ajuda ofereça ao leitor com suas ilustrações. Os dois mapas do Nordeste da parte introdutória têm letras e algarismos em tamanho minúsculo; por sua vez, o mapa da rede de relações entre grupos indígenas que está no capítulo sobre os pancararus, é bem feito e legível, mas não traz a chave dos números, que nem mesmo correspondem aos já referidos. Ainda nesse capítulo falta uma legenda explicativa no esquema da "árvore" pancararu. Um mapa da Funai que tem Palmeira dos Índios no centro, além de pouco legível, está num capítulo que não lhe corresponde; outro mapa de Palmeira dos Índios, este no capítulo correto, traz um quase octógono pontilhado em torno da cidade que, apesar da falta de explicações, só pode ser a légua em quadra, mas falta a identificação das áreas numeradas nele inseridas.


Um estudo comparativo dos tupis. Roque Laraia também trabalhou junto ao Projeto Harvard-Museu Nacional, mas sem fazer parte dele. Em vez de jês e macro-jês, preferiu ficar com os tupis. Mesmo assim, frequentou Harvard e até colaborou com Maybury-Lewis, colhendo para ele dados sobre os xerentes, ainda que não relacionados a sua organização social. Defendeu sua tese na USP em 1972 e publicou-a sob o título Tupi: Índios do Brasil Atual vários anos depois. Embora não seja propriamente uma monografia referente a uma só sociedade, constitui um estudo comparativo dos tupis, segundo os tópicos geralmente presentes nos estudos monográficos. Fundamenta-se na bibliografia então disponível e nas pesquisas de campo realizadas pelo autor entre os suruís e assurinis do Pará, os caapor do Maranhão e os camaiurás altoxinguanos.


Canelas, uma longa pesquisa. William H. Crocker, da Smithsonian Institution, estuda os canelas, timbiras do Maranhão, desde 1957. Após fazer seu doutorado, continuou a visitá-los em períodos longos ou pequenos, ultrapassando a virada do século. A soma de todo o seu tempo de campo deve estar entre seis e sete anos. Ao longo dessas visitas foi escrevendo seus artigos, sobre diversos temas relativos à cultura e à situação dos canelas. Em 1990 publicou um grande livro, The Canela (Eastern Timbira), como uma introdução etnográfica. Cada capítulo do livro é dividido em muitos tópicos, que se remetem uns os outros, e por isso dotados de uma complexa numeração. Dir-se-ia que constitui um hiper-texto. Traz no seu final inúmeras fotos (pp. 409-487), sem dizer das inseridas no texto. Em 1994 publicou um outro livro, The Canela: Bonding through kinship, ritual, and sex, como unidade de uma série destinada a estudantes universitários (Case Studies in Cultural Anthropology) dirigida por George e Louise Spindler. Esse livro tem a co-autoria de sua esposa, Jean Crocker, que não é antropóloga nem fez pesquisa com os canelas, mas é professora de inglês e de literatura, e ajudou-o na redação do texto. Na introdução William Crocker conta como veio a interessar-se pelos canelas. O livro foi muito bem recebido, teve uma segunda edição, sobre a qual foi realizada sua tradução para o português, com umas poucas modificações. William Crocker mantém um site, The Canela Indians of Northeastern Central Brazil, que inclui muitas informações, inclusive seus artigos, seu grande livro de 1990, um vídeo e até reproduz na íntegra The Eastern Timbira de Curt Nimuendaju. William Crocker tem manifestado a aspiração de escrever um livro sobre as mudanças sociais e culturais pelas quais passaram os canelas nos últimos cem anos.


Da predação criativa. Algumas monografias sociocosmológicas como que formam um conjunto por incidirem quase todas numa mesma grande área, que fica no centro e sul da Amazônia e por terem sido realizadas em sua maioria por pesquisadores formados no Museu Nacional, da UFRJ.

Na época do Projeto Harvard-Museu Nacional (décadas 1960/1970), a Universidade de Harvard também sediava um projeto de pesquisa voltado para os maias, da Meso-América, dirigido por Evon Vogt. O nome de Patrick Menget aparece arrolado entre os participantes desse último. Mas ele acabou indo fazer pesquisa entre os índios txicãos (hoje mais referidos pela sua auto-denominação ikpeng), do rio Xingu, a caminho dos quais também frequentou o Museu Nacional. Defendeu sua tese na França. O livro Em Nome dos Outros, dela resultante foi publicado 24 anos depois em Portugal. Esse trabalho se mostra como precursor em dois aspectos. Um deles é a distinção entre os índios dos formadores do Xingu, que partilham maior semelhança cultural apesar das diferenças linguísticas, e os que estão no alto curso do mesmo rio, mais ao norte e mais heterogêneos, aí chegados ou trazidos mais recentemente, como os txicãos. O outro aspecto é o da importância da apropriação de elementos do exterior, à custa do inimigo, como nomes pessoais, partes do corpo, para a reprodução social, como acontece com muitos outros grupos indígenas. Os txicãos, que falam uma língua da família caribe muito próxima da dos araras, abordados no livro de Teixeira-Pinto abaixo referido, dispõem como estes de uma terminologia de parentesco simultaneamente horizontal e oblíqua. Como o livro de Teixeira-Pinto aborda vários tópicos cosmológicos enquanto o de Menget se atém mais à organização social, talvez devido às limitações impostas pela própria situação dos txicãos, não se pode levar muito longe a comparação entre os dois.

Lembro-me do entusiasmo com que uma excelente turma de graduação da UnB leu e discutiu o livro Araweté: Os Deuses Canibais, tese de doutoramento de Eduardo Viveiros de Castro no Museu Nacional. Fascinava, a mim e a eles, ver a antropofagia dos antigos tupinambás transferida para o mundo celeste e destino dos arauetés, onde são devorados pelos deuses e a partir daí eles próprios naqueles transformados. Impressionava-nos saber da vítima cantar pela boca do seu matador. Víamos com extremo interesse a oposição nós/outros dos jês transmudar-se num contínuo em que os outros são o futuro do nós, que têm por devir a volta aos outros. Para uma turma seguinte, que julguei com menos pendores para apreciar um texto volumoso, entremeado por muitas notas que curiosamente o interrompiam logo após a chamada, em vez que serem colocadas no rodapé, utilizei a edição resumida, sob o título Araweté: O povo do Ipixuna, e redigida de um modo mais fácil para atender a um número mais amplo de leitores.

A tese de Viveiros de Castro foi saudada como a retomada de renovação dos estudos sobre os tupis. Mas penso que também contribuiu para levar mais adiante a pesquisa sobre aquelas sociedades que vão buscar no seu exterior elementos indispensáveis à operação de suas próprias instituições, como prisioneiros para sacrificar, nomes pessoais, poderes xamânicos e criar nomes pessoais e outros mais. Tanto que a maioria dos pesquisadores orientados por ele não procurou povos tupis para estudo, e mesmo em povos de famílias linguísticas diferentes encontraram essa orientação para o exterior.

Um deles, Marco Antonio Gonçalves, publicou O Significado do Nome, que foi sua dissertação de mestrado sobre os pirahãs, da família linguistica mura, que vivem junto a afluentes da margem direita do Madeira. Lá encontrou uma incrível transmutação dos nomes pessoais em seres que também morrem e dão origem a canibais, que também morrem, numa sequência que não cabe resumir aqui. Também descobriu que no passado havia guerreiros que sorrateiramente observavam um inimigo antes de matá-lo, de modo a achar semelhança com alguém que conheciam, a fim de captar-lhe o nome pessoal. O mesmo pesquisador realizou sua tese de doutorado sobre o mesmo povo, publicando-a com o título O Mundo Inacabado.

Outro desses pesquisadores, Márnio Teixeira-Pinto, publicou Ieipari, sua tese de doutorado, de cuja banca tive a honra de participar, sobre os araras das vizinhanças do baixo Xingu, que foi agraciada com um prêmio da Anpocs. Ieipari é o nome de um rito que tem por centro a cabeça de um inimigo sobre um poste.

Aparecida Vilaça, por sua vez, escreveu dois livros sobre os pacaás novos (Wari') de Rondônia. Um deles, Comendo como Gente, é sua dissertação de mestrado, que versa sobre o canibalismo funerário, realizado de maneira totalmente diferente daquele que praticavam sobre os imimigos. O outro livro, Quem Somos Nós, é sua tese de doutorado. A pesquisadora norte-americana, Beth Conklin, em seu livro Consuming Grief, centrou sua atenção no rito funerário do povo Wari', o mesmo estudado no primeiro livro de Aparecida Vilaça, embora com abordagem distinta.

Desse primeiros etnólogos orientados por Viveiros de Castro, talvez tenha sido apenas Carlos Fausto que fez seu trabalho de pesquisa sobre um povo tupi. Seu livro Inimigos Fiéis, sobre os paracanãs das terras entre as margens do Xingu e do Tocantins foi sua tese de doutoramento (aliás premiada pela Anpocs como tese e depois como livro). Trabalhando sobre a memória dos paracanãs, Fausto conseguiu demonstrar que eles eram o mesmo povo que se manifestava junto a um e outro desses rios, tendo-se cindido em dois, fazia cerca de um século. Nesse breve intervalo tinham desenvolvido diferenças na sua organização social. Antes de atração, um deles aparecia aos brancos em dois pontos do Tocantins com comportamentos diversos, hostis num deles, oferecendo jabutis em troca de ferramentas no outro. Fausto deu o nome de "predação familiarizante" aos seus procedimentos para com os inimigos.

A incorporação de elementos oriundos do exterior como importante fonte de construção e reprodução social se mantinha em segundo plano na etnografia jê até o lançamento de Economia Selvagem, livro em que Cesar Gordon toma as reivindicações reiteradas de bens e indenizações expostas de modo agressivo dos xicrins do rio Cateté à Companhia Vale do Rio Doce, como orientadas segundo o ideal de predação. Relaciona esses bens e constribuições monetárias com a hierarquia de prestígio vigorante entre os xicrins. Faço um comentário um pouco mais longo desse livro no capítulo C1 de minhas Áreas Etnográficas da América Indígena [ver aqui].


Parentesco. No volume Antropologia do Parentesco, Eduardo Viveiros de Castro reúne textos de vários dos que cursavam ou já tinham cursado a pós-graduação do Museu Nacional. Com exceção de Vanessa Lea, que fora sua colega quando alunos do doutorado, todos os demais passavam ou haviam passado por sua orientação (Carlos Fausto, Aparecida Vilaça, Marco Antonio Gonçalves, Márnio Teixeira Pinto, Márcio Silva, Marcela Coelho de Souza). Cada qual escreveu sobre o parentesco na sociedade indígena em que fizera pesquisa de campo para elaboração de dissertação ou tese, menos Marcela de Souza, que fez um texto com base em bibiografia sobre os xinguanos, nos quais focara sua dissertação de mestrado. Os autores analisam as terminologias de parentesco e os ciclos matrimoniais das sociedades indígenas a cujo estudo se dedicavam à luz das modernas teorias, inclusive os estudos recentes de Viveiros de Castro.

Um dos autores contribuintes do referido volume voltou a publicar sobre o parentesco waimiri-atroari com o livro Romance de Primas e Primos, resultante de sua tese de doutorado. Aliás, em 2012, em seu concurso de livre-docência na USP, apresentou a tese Liga dos Enawene-Nawe: Um estudo da aliança de casamento na Amazônia Meridional. Esse texto, que na minha opinião equivale a um livro pronto para publicação, é constituído por três partes que se entrosam: um histórico das teorias do parentesco, a descrição e análise do sistema de parentesco dos enauenê-nauê e uma apresentação da "Máquina do Parentesco", da qual se vale no exame dos casamentos enauenê-nauê. Essa "máquina" é um programa que ele desenvolveu com a colaboração de João Dall Poz, professor da UFJF, destinada a mostrar todos os elos entre as pessoas incluídas num recenseamento genealógico, pondo em evidência os ciclos matrimoniais. Ela realiza em poucos minutos um trabalho que o pesquisador levaria meses a fazer, se percorresse a olho as longas linhas nas genealogias que tomou. É um texto em linguagem simples e entusiasmada que chega a ser didático. Além disso, as duas obras podem ser postas em contraste elucidativo: se o livro sobre os uaimiris-atroaris trata de um exemplo de sistema dravidiano, o referente aos enauenê-nauê lida com um exemplo iroquês.


Casas, mulheres, nomes, amigos e riquezas A dissertação Mulheres, Homens e Heróis, de Sylvia Caiuby Novaes, centra sua atenção na casa como o lugar em que se entrecruzam as relações públicas e privadas dos moradores das aldeias bororos. Procura conhecer como as regras, o comportamento ideal, a distinção em categorias sociais, se expressam concretamente no quotidiano. Interessa-lhe a defasagem entre o aspecto jurídico, o modelo, e o comportamento real observado. Assim, por exemplo, certos indivíduos, temporária ou permanentemente, por razões que lhes são próprias, não atendem ao padrão da uxorilocalidade. Grupos domésticos espacialmente contíguos, os "encostados", ainda que suas mulheres pertençam a clãs ou mesmo metades distintas, mantêm entre si uma fluência solidária de conversas, favores, alimentos, freqüência mútua, ao contrário dos que têm por núcleo mulheres de linhagens do mesmo clã, que, por diferença de nível hierárquico, mantêm-se alheias. O grupo doméstico de origem do pai de uma criança dá-lhe afetuosa atenção, mesmo quando aquele já se tenha divorciado de sua mãe. Valendo-se da metodologia de rede, a pesquisadora registrou uma série de tipos de relações (trocas, visitas, favores, temporárias ritualizadas, de amizade e negativas) entre as casas da aldeia de Córrego Grande, no período de 1970 a 1975, traçando um conjunto de gráficos, apresentados em apêndice (pena que em tamanho muito pequeno), dos quais retira exemplos para analisar. Mas o fluir do quotidiano bororo não é caótico; se, por exemplo, apresenta uma alta taxa de divórcios, há por outro lado a tendência a voltar a procurar cônjuge na mesma linhagem, às vezes voltar ao mesmo cônjuge, valorizando as "estradinhas" (utawara), ou seja, relações estabelecidas desde os tempos míticos. O livro se encerra com o ritual funerário bororo (com uma digressão sobre o simbolismo dos cabelos), que envolve toda a aldeia, mas com participação destacada do grupo doméstico do falecido e o do seu representante. Na extinção de todos os objetos pertencentes ou relacionados ao morto, a própria casa em que morava será queimada e o grupo doméstico que abrigava se dispersará temporariamente por outras casas. Depois de algum tempo uma nova casa pode ser erguida no mesmo lugar, pelo mesmo grupo doméstico ou por outro cujas mulheres, por sua afiliação clânica, sejam credenciadas ao mesmo espaço.

O livro Aracy Lopes da Silva Nomes e Amigos sobre os xavantes, resultante de tese de doutorado na USP, sob orientação de Lux Vidal, pode ser tomado como uma como uma continuação crítica da etnografia de Maybury-Lewis, que é anterior aos trabalhos do Projeto Harvard-Museu Nacional de que foi um dos diretores. Precede o de Vanessa Lea ao voltar o foco para os nomes pessoais e na crítica à prioridade concedida por seu predecessor ao modelo masculino, pelo menos no que tange às categorias de idade das mulheres. Além disso, estuda também as relações rituais de amizade.

Ainda que não seja contemporânea do Projeto Harvard-Museu Nacional, Vanessa Lea tem algo a ver com ele, não só por ter sido orientada na sua tese por Anthony Seeger, que fora por sua vez orientado em Chicago por Terence Turner, um participante do Projeto, como por desenvolver um tema que teria recebido pouca atenção do mesmo e de outros participantes. Por ter pesquisado o mesmo povo estudado por Turner, os Mẽbêngôkre (auto-denominação dos caiapós), foi com ele que as divergências se manifestaram de modo mais agudo, embora nunca tenham tomado o caminho da polêmica impressa. Defendida no Museu Nacional, sua tese aguardou 26 anos para sair como livro sob o título Riquezas Intangíveis de Pessoas Partíveis. É um belo trabalho, bem fundamentado na etnografia, que estuda os nomes pessoais e uma série de bens imateriais (os nekretx) como prerrogativas das Casas, isto é, as unidades sociais nucleadas nas mulheres nascidas em habitações contíguas e relacionadas por linha feminina.

Cecilia McCallum parece ter-se inspirado no título do volume de Kensinger para dar o subtítulo do seu, Gender and Sociality in Amazonia: How Real People Are Made, que trata dos mesmos caxinauás, mas do Acre. Não posso dizer que tenha entendido bem as conclusões da autora quanto às relações entre gêneros, que é o tema do livro. Fiquei mais seduzido pela descrição e análise de dois ritos, o Nixpo pima e o Kachanawa. O primeiro, a que os caxinauás aludem como "batismo", tem como neófitos crianças de ambos os sexos entre 7 e 11 anos, na fase de troca de dentes de leite para permanentes, nele se fazendo a confirmação de seus nomes pessoais, e dando início à diferenciação social entre meninos e meninas. O segundo, que pode ser encaixado dentro da realização do primeiro, costuma-se fazer depois de a aldeia ter passado por algum período emocionalmente difícil. Kachanawa é o nome de um recipiente feito de tronco de paxiúba e aí mantido até o final do rito, quando é destruído. O rito envolve diferenciação simbólica de metades, que fazem as vezes de espíritos ou forasteiros, troca de alimentos entre cunhados, cânticos que enumeram os vegetais. A interpretação do rito leva em conta mitos que narram as duas sucessivas origens dos caxinauás, a primeira fracassada pela inexistência de regra de incesto e inabilidade no trato com estranhos, possíveis cunhados.


Jês meridionais. Juracilda Veiga, no seu livro Aspectos Fundamentais da Cultura Kaingang, com base em seu trabalho de campo e na bibliografia, procura dar sentido a um conjunto de dados fragmentários, de modo a reconstituir a organização social e a cosmologia dos caingang, numa pesquisa abrangente, crítica e atual. Corresponde a sua tese de mestrado, defendida em 1992 na Unicamp. Demoro-me nas contribuições do livro no capítulo B4 de minhas Áreas Etnográficas da América Indígena [ver aqui].


Das relações entre humanos e animais. O livro de Felipe Vander Velden, Inquietas Companhias, constitui exemplo de um novo tema de interesse na Antropologia que são as relações entre seres humanos e os animais (de que é exemplo o volume do Anuário Antropológico 2011/II, organizado por Carlos Emanuel Sautchuk e Guilherme Sá). O livro se fundamenta em pesquisa de campo do autor entre os índios caritianas, de língua da família ariquém, do tronco tupi, que vivem no estado de Rondônia, próximo à capital, Porto Velho, cidade que frequentam assiduamente. Trata tanto dos filhotes de animais silvestres que os caritianas trazem para suas aldeias, após as caçadas em que abateram os adultos (araras, papagaios, periquitos, macacos, veados, queixadas, caitetus, antas) como também dos animais introduzidos pelo contato com os brancos (cachorros, gatos, galinhas, coelhos, porcos, cabritos, cavalos, jumentos, bois). Os motivos, os cuidados, as precauções, o interesse em criar os animais de uma e de outra dessas origens se distinguem, assim como diferem dentro de cada conjunto. A redação do livro se desenvolve como que numa espiral, com a reiteração da informação etnográfica, mas sempre no exame de um aspecto distinto. E assim vai discutindo o número e a distribuição dos animais na aldeia; a atribuição dos cuidados aos animais de origem silvestre às mulheres, que lhes dão um tratamento como se fossem crianças, que nunca se tornam adultos por não se reproduzirem; as dificuldades de reprodução na aldeia dos animais que conheceram por intermédio dos brancos, a não ser das galinhas, que, por outro lado, não são aproveitadas no consumo; a recusa em consumir os animais criados na aldeia, tanto os silvestres como os oriundos dos brancos, algo como que uma transferência do que sentem pelos primeiros aos segundos, o que não os impede de comer carne de frangos e de bovinos quando abatidos pelos brancos, mas desestimula qualquer projeto próprio ou de origem externa voltado a transformar os caritianas em criadores; a associação dos cachorros com os homens, na atividade de caça; a classificação dos animais segundo os critérios indígenas; a presença dos animais e dos símbolos e sentimentos a eles associados no mundo sobrenatural. Tanto esses como outros diferentes aspectos que toma essa relação são examinados esmiuçadamente, com o apoio de uma extensa bibliografia pertinente, que o autor maneja com desenvoltura.

Intrigante é a capa do livro, que reproduz um esboço do desenhista Aimé-Adrien Taunay, desenhista da Expedição Langsdorff, da visita que alguns bororos lhe fizeram na casa em que estava hospedado no lugarejo de Pau Seco. Por que os bororos de 1827 em vez dos caritianas dos dias de hoje, num volume em que qualquer outra imagem está ausente? No desenho, há dois cães deitados no chão, há também uma sela com estribos pendurada na parede e, parece-me, uma ave morta na beira da mesa; seriam eles o motivo?


Mitologia em Rondônia. Betty Mindlin tem publicado gradativamente, num estilo acessível, os mitos dos índios tuparis e seus vizinhos do vale do Guaporé, no estado de Rondônia, e dos suruís, da fronteira entre Rondônia e Mato Grosso. O volume Tuparis e Tarupás é dedicado quase que somente a narrativas tuparis. Apresenta tanto fotos recentes, tomadas por Lucia Mindlin Loeb, como fotos tiradas por Franz Caspar nos meados do século XX. Já os volumes Moqueca de Maridos e Terra Grávida incluem, além de mitos tuparis, outros dos macurap, ajurus, jabutis, aricapus e aruás. Por sua vez o volume Vozes da Origem contém narrativas suruís (paiter), como mitos, histórias de guerreiros, depoimentos de pajés. Com exceção do primeiro, os demais já na capa atribuem co-autoria aos aos narradores indígenas. Esses volumes contêm alguns comentários finais, notícia sobre os narradores, glossário, mas se abtêm da análise dos mitos.


Poesia e xamanismo. Com Oniska Pedro de Niemayer Cesarino expande de modo seguro o conhecimento da etnografia marubo. Esclarece a multiplicidade de pessoas que se originam no mesmo corpo/carcaça, que dele pouco dependem, mas o visitam como se fosse uma maloca, cultivando entre si relações de parentesco, podendo habitar outras camadas do universo, e que sobreviverão à morte daquele. Explica as duas modalidades de xamanismo, que não são concorrentes, mas sim complementares e entrosadas. Faz a tradução de cânticos entoados por visitantes do corpo do xamã romeya, que fica numa rede na entrada da maloca; de cânticos dos kẽchĩtxo, entoados em torno do doente deitado na sua rede; e de mitos, que também são cantados. Apresentando sua tradução para o português ao lado do texto na língua marubo, Cesarino cuidadosamente procura dar conta de sua poesia e ritmo. É um trabalho que certamente terá uso e influência duradoura, além de constituir um corpus a que os próprios marubos, suponho, recorrerão no futuro.

Mas vale reparar que um livro anterior, A Morada das Almas, de Delvair Montagner, que condensa sua tese de doutorado na UnB, foi importante como exploração pioneira da cosmologia e das duas modalidades de xamanismo marubo. Como recurso de pesquisa, ela complementou suas observações, conversas e traduções livres de cantos e mitos para o português feitas por intérpretes indígenas com a coleta de desenhos elucidativos traçados e explicados pelos entrevistados. Seu livro e artigos vieram a constituir um valioso ponto de partida para os pesquisadores posteriores.


Mitos, ritos e religião no baixo Oiapoque. O rio Oiapoque separa a Guiana Francesa do estado brasileiro do Amapá. A pouca distância de sua foz no oceano, o rio Uaçá desemboca na sua margem direita, a brasileira. O curso do Uaçá faz uma grande curva com a cavidade voltada para oeste. Dentro dessa cavidade, correm para ele os rios Curipi, mais ao norte e o Urucauá ao sul. As aldeias dos caripunas se concentram no Curipi; as palicur, no Urucauá; e a maior aldeia dos galibi-marworno fica no alto Uaçá. Na região ainda estão os galibis, chegados não há muitos anos da Guiana Francesa, e ficam na margem do Oiapoque. Mas o livro de Lux Vidal, A Cobra Grande, focaliza sobretudo os três primeiros desses povos. Partindo de diferentes versões do mito da cobra grande contados por cada um deles, passando para o da cobra das sete cabeças, que deu origem ao Sete-Estrelo, ela vai tecendo considerações sobre diferentes temas como o ciclo agrícola, o território, a estrutura social, a educação bilíngue, os antigos conflitos e migrações, arte, os questionamentos dos indígenas relativos a seus saberes e os dos membros da sociede envolvente. É um texto panorâmico, escrito vários anos antes de sua publicação, quando ela iniciava suas pesquisas na região, dando-se conta das principais questões que teria de enfrentar.

Lux Vidal despertou o interesse pela região em duas alunas: Antonella Tassinari e Artionka Capiberibe. Da primeira ela orientou a tese de doutorado, publicada com o título No Bom da Festa, sobre os caripunas. O livro de Tassinari traz um bom mapa da região (p.73), um recurso de que o leitor sente falta no livro de Lux Vidal. Fiz um breve apanhado do mesmo no capítulo E4 de minhas Áreas Etnográficas da América Indígena [ver aqui]. Também fiz algum comentário ao capítulo que Artionka Capiberibe escreveu para o volume 2 de Transformando Deuses, organizado por Robin Wright, resultante de sua dissertação de mestrado, orientada por ele, sobre a conversão dos palicur ao pentecostalismo.


Crítica da lide com saberes indígenas. O volume Conhecimento e Cultura, organizado por Marcela Coelho de Souza e Edilene Coffaci de Lima, reúne contribuições de professores e alunos da UnB e da UF do Paraná. Está dividido em três seções. A primeira, "Conhecimento", contém três capítulos referentes a questões relativas ao reconhecimento legal de saberes indígenas: o de Edilene Coffaci de Lima trata das reivindicações dos catuquinas-panos quanto ao uso da secreção do sapo-verde kampu; o de Diego Soares aborda a complexidade da tramitação dos processos relativos a conhecimentos indígenas pelas agências governamentais competentes; o de José Pimenta e Guilherme Fagundes de Moura trata da disputa dos axanincas com as empresas de cosméticos que passaram a fabricar artigos derivados da palmeira murumuru, entre outros, sem reconhecerem o projeto de iniciativa deles que possibilitou essa produção.

A seção "Cultura", Marcela Coelho de Souza a inicia com um capítulo em que faz uma reflexão sobre a apropriação do conceito de cultura, sempre em discussão e refinamento no meio antropológico, pelos diferentes povos indígenas, que o tomam com um sentido distinto, moldado no contexto interétnico em que o empregam. Antonio Guerreiro Jr. trata como os nobres calapalos disputam as posições de chefia, cultivando relações com os brancos, de modo a trazer para a aldeia recursos provenientes das tomadas de som e imagem pelas empresas de comunicação, encaixe da memória de não índios ilustres no ritual dos mortos, retribuição de hospedagem e compra de artesanato por turistas, assessoria em projetos. E Paulo Roberto Nunes Ferreira mostra como os caxinauás chamam a si a resolução da questão de como tratar, no âmbito da escola indígena, a distinção entre desenhos tradicionalmente traçados por mulheres e os desenhos masculinos, uma vez que o número de alunas é crescente e o de professoras é bem inferior ao de professores.

A seção "Transformação" engloba quatro capítulos. Laura Perez Gil trata do recurso ao xamanismo pelos iamináuas numa área de grande interação com representantes de outros povos panos e aruaques, nas vizinhanças da confluência do Urubamba com o Ucayali, no Peru. Nicole Soares Pinto explora as ocasiões em que os grupos domésticos uajurus, de Rondônia, se convidam para beber chicha, destacando os momentos em os participantes estão bastante etilizados, quando se abrem para contar seus problemas, mágoas, alegrias. Eduardo Nunes estuda a identidade dos carajás vizinhos da cidade de Aruanã, que se admitem índios e brancos que se alternam num mesmo corpo. E Júlia Otero dos Santos estuda a reivindicação do reconhecimento da ayahuasca como patrimônio cultural por três distintos grupos religiosos não indígenas apesar dos diferentes significados com que a tomam nos seus ritos.


Arte no alto Xingu. Há algo em comum entre dois livros dedicados à arte, talvez por por abordarem povos indígenas vizinhos, falantes de línguas da mesma família aruaque e de cosmologia semelhante. Mais atento ao aspecto estético e artístico é o livro O Mundo dos Mehináku e Suas Representações Visuais de Heloísa Fénelon. Voltando a lê-lo, dei-me conta de que não soube apreciar devidamente sua valiosa contribuição quando o tive em mãos pela primeira vez, ainda sob a forma de tese, no concurso para titular do Museu Nacional, em 1986, de cuja banca participei. Também comecei a pensar no quão pouco eu soube tirar da oportunidade que tive de trabalhar, como estagiário do mesmo Museu, em mesa vizinha à da autora, se tivesse procurado aprender mais com ela como estudar esta face tão rica das culturas indígenas que são as suas manifestações artísticas. O livro mostra a autora em pleno domínio da bibliografia antropológica pertinente, dos textos etnológicos sobre o alto Xingu e da literatura dos críticos e estudiosos de arte. Fundamenta-se em desenhos coletados em seis etapas de campo nas décadas de 1960 e 1970. Recorre também a desenhos obtidos por outros pesquisadores, inclusive estagiários orientados por ela, na mesma ou em outras aldeias xinguanas. Dessas coleções, 70 desenhos são reproduzidos no volume, em escalas diversas, em apoio a sua argumentação. Em A Arte dos Sonhos, Aristóteles Barcelos Neto não descreve as técnicas uaurás tradicionais de confecção de artefatos. Os 70 desenhos que apresenta, a grande maioria a cores, foram traçados sobre papel e com lápis ou tinta de origem industrial. Eles representam seres do cosmos uaurá, seres que perderam seu lugar na terra para os homens, após o aparecimento do sol ter extinguido a contínua escuridão, uns logrando criar vestes para se protegerem, outros não. Os que ficaram nus são os mais ameaçadores e maléficos. Tais seres mostram um certo ar de semelhança com Njamalũ, representado num desenho mehinaco que Heloísa Fénelon me emprestou para figurar na capa da primeira edição de meu livro Índios do Brasil, mas que foi irremediavelmente estragado na gráfica que o imprimiu. Por isso não aparece no livro dela. Voltando a Barcelos Neto, seu livro prenuncia um texto mais desenvolvido que é sua tese de doutorado, defendida dois anos depois.

Ofereço alguns detalhes a mais sobre os dois livros no capítulo C2 de minhas Áreas Etnográficas da América Indígena [ver aqui].

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